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Seg, 24 Janeiro 2022 10:02

Entrevista Nota 10: Paulo Henrique Palácio e as possibilidades da Fisioterapia

Coordenador do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza enfatiza a importância dos fisioterapeutas na atualidade 


Paulo Henrique Palácio é mestre em Ciências Médicas e especialista em Fisioterapia Esportiva (Foto: Ares Soares)
Paulo Henrique Palácio é mestre em Ciências Médicas e especialista em Fisioterapia Esportiva (Foto: Ares Soares)

Perfil dinâmico e inovador para vivenciar uma carreira desafiadora que oferece diversas oportunidades no mercado de trabalho. De acordo com Paulo Henrique Palácio, coordenador do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza, no futuro, uma em cada três pessoas vai precisar de serviços de reabilitação, é o que apontam estudos internacionais recentes sob a ótica da pandemia de Covid-19. 

Mestre em Ciências Médicas, o professor alia experiências na área clínica, docência e gestão com a missão de contribuir para a formação de profissionais de excelência, cada vez mais necessários para a promoção da saúde e bem-estar da população. 

Com exclusividade ao Entrevista Nota 10, Paulo Henrique Palácio fala sobre o papel do fisioterapeuta no cenário de pandemia, destaca os projetos inovadores presentes na graduação da Unifor e aborda as diversas possibilidades de atuação profissional na área. Leia na íntegra: 

Entrevista Nota 10 - Professor, para iniciar, gostaria que compartilhasse um pouco da sua trajetória com a Fisioterapia. Qual foi a motivação para escolher a área e como se deu o encontro com a docência?

Paulo Henrique Palácio - Em 1995 eu estava terminando o ensino médio e era um jovem ainda com dúvidas sobre qual profissão seguir, mas tinha a certeza que era da área da saúde. Após acompanhar um familiar que estava em tratamento com um fisioterapeuta de referência e conversar um pouco sobre o trabalho, decidi prestar vestibular na Unifor (que à época era o único curso de Fisioterapia do Estado) e passei! Me identifiquei muito com o curso e profissão e após muita dedicação e estudo me formei e fui até agraciado com uma bolsa de pós-graduação por ter sido mérito acadêmico em 2001.2 e tive a honra de receber essa premiação das mãos da senhora Yolanda Queiroz na cerimônia de colação de grau. Esse marco histórico completou 20 anos em dezembro de 2021. O tempo passa rápido e aproveitei com intensidade e equilíbrio as oportunidades que surgiam e criando novas possibilidades ao longo de minha trajetória profissional. Comecei a atuar como fisioterapeuta em empresa, domicílio e hospital, enquanto fazia minha pós-graduação. 

Em 2005, quando entrei para ser fisioterapeuta de uma clínica escola de uma outra instituição de ensino privada, fui convidado a lecionar algumas disciplinas e tive o primeiro contato oficial com um grande sonho e vocação: ser, também, professor e ajudar na formação de futuros colegas profissionais. Em 2008 fiz seleção para ser docente no curso de Fisioterapia da Unifor e tive a grande felicidade de retornar à minha casa. Desde então, me qualifiquei cada vez mais como professor, consegui o título de especialista em Fisioterapia Esportiva, terminei o mestrado em Ciências Médicas, conclui o MBA em Gestão Empresarial, integrei o corpo de conselheiros efetivos do CREFITO-6, fui Fisioterapeuta Militar da Força Aérea Brasileira, e após muitas vivências e experiências tanto na área clínica como também de docência e gestão, hoje coordeno o curso de Fisioterapia da Unifor, uma missão desafiadora e muito gratificante!

Entrevista Nota 10 - Sabemos que a pandemia de Covid-19 tem reforçado cada vez mais a importância fundamental dos profissionais da saúde. Qual o papel do fisioterapeuta neste cenário, sobretudo, na recuperação dos pacientes?

Paulo Henrique Palácio - A pandemia do novo coronavírus impactou diversos aspectos do cotidiano da vida das pessoas em todo o mundo, ampliou a importância dos cuidados integrais com a saúde e enfatizou a relevância da atuação de várias categorias profissionais da áreas, dentre elas a Fisioterapia, que vem desempenhando um papel essencial desde a atenção primária à recuperação das pessoas que tiveram Covid-19. Na linha do tempo da pandemia, os hospitais públicos e privados recrutaram um grande número de fisioterapeutas (inclusive vários egressos do Curso de Fisioterapia da Unifor desde 2020) para atender os muitos pacientes internados em enfermarias e principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva. Neste ambiente, a expertise do fisioterapeuta no manejo do ventilador mecânico,equipamento importante nos casos mais graves, contribuiu para a redução de danos aos pacientes devido à doença e complicações relacionadas, além dos cuidados com posicionamento no leito e movimentos corporais dos mesmos no sentido de minimizar os impactos pelo tempo prolongado de internação e devido às manifestações sistêmicas provocadas pelo vírus SARS-CoV-2. 

Ao longo desse período, a ciência e a colaboração multi e interprofissional (evento ex-alunas da Fisioterapia Unifor) contribuíram para o lançamento do capacete ELMO, tecnologia de suporte ventilatório que evitou riscos de intubação/ventilação mecânica e agravamento da condição respiratória em muitos pacientes em todo o país. Após a segunda onda da pandemia, muitas pessoas que tiveram Covid-19 e receberam alta hospitalar, ainda ficaram com limitações funcionais importantes, tanto em relação à própria respiração como também no condicionamento e força muscular, entre outras consequências clínicas. Tal cenário exigiu um suporte especializado da Fisioterapia no contexto ambulatorial, principalmente no que se refere aos exercícios e intervenções específicas manuais e de acessórios/equipamentos para essa população e assim vários serviços de reabilitação da denominada síndrome pós-Covid-19 foram implementadas em todo o Brasil, aumentando ainda mais a necessidade de fisioterapeutas.

Entrevista Nota 10 - Professor, quais são as inovações presentes no curso de Fisioterapia da Unifor?

Paulo Henrique Palácio - Ao longo dos anos o curso de Fisioterapia da Unifor vem contribuindo para a formação de excelência de profissionais e para a saúde da população, principalmente através de iniciativas de inovação. Além do recente capacete Elmo (que inclusive está disponível aos alunos da graduação para treino de seu uso nas disciplinas específicas), e das metodologias de ensino ativas e inovadoras, é importante destacar algumas outras, como: nova matriz curricular, atualizada e mais contemporânea para atender às novas demandas do mundo do trabalho (e em breve um programa de educação continuada "long life learning"); serviço de reabilitação pós-Covid e ambulatório de reabilitação da dor crônica, ambos com abordagens pautadas em referências internacionais e inovadoras; desenvolvimento de aplicativos nas áreas de pediatria e de exercícios para disfunções musculoesqueléticas; podcast Fisioterapia ao Pé do Ouvido, uma ferramenta atual que contribui para o processo de ensino-aprendizagem; parcerias internacionais que propiciam aos alunos vivências e experiências de outras culturas e perspectivas profissionais, além de muitas outras, vinculadas às ligas, grupos de estudo, pesquisa, monitoria e estágios não obrigatórios. 

Entrevista Nota 10 - De que forma os estudantes do curso de Fisioterapia da Unifor vivenciam a prática de sua futura profissão?

Paulo Henrique Palácio - O aluno desde o primeiro semestre já tem vivência e imersão em cenários de práticas profissionais que vão evoluindo em níveis de complexidade ao longo da trajetória acadêmica dos(as) alunos(as), através das disciplinas teórico-práticas, de estágios assistidos e estágios supervisionados. E para tal entrega de práticas e vivências, o curso tem parceria com os principais hospitais e clínicas de referência do Estado, além de uma clínica escola de excelência no NAMI. Além disso, os(as) profissionais em formação têm total suporte da coordenação e dos professores na trajetória acadêmica para que cheguem no mercado preparados para trilharem caminhos de sucesso.

Entrevista Nota 10 - E o estímulo à iniciação científica também é um diferencial?

Paulo Henrique Palácio - Sim! E o curso de Fisioterapia é um dos principais do Centro de Ciências da Saúde (CCS) que são contemplados com bolsas de iniciação científica das instituições de fomento nacionais e regionais, mostrando o respaldo e relevância da produção científica do curso. E tal perspectiva será ampliada na nova matriz.

Entrevista Nota 10 - Professor, onde o profissional de Fisioterapia pode atuar? Quais possibilidades o mercado oferece na área?

Paulo Henrique Palácio - O fisioterapeuta pode atuar em vários cenários do mundo do trabalho, tanto públicos como privados e entregar à população sua expertise nas mais diversas especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Dentre essas possibilidades estão hospitais, clínicas, consultórios , UPAS, unidades básicas de saúde , equipes profissionais, empresas, universidades entre muitas outras, podendo o profissional atuar como fisioterapeuta clínico, gestor, pesquisador , docente entre outras funções , alinhando as principais competências de vida do mundo contemporâneo. Duas especialidades profissionais são bastante procuradas, como a Fisioterapia Traumato-ortopédica e Fisioterapia Respiratória (em alta atualmente pela crescente demanda de pacientes devido a pandemia e síndrome pós-Covid). Porém outras estão em ascensão como a Fisioterapia em Terapia Intensiva, em Oncologia, do Trabalho, Esportiva, em Gerontologia e Dermato Funcional, diante das mudanças no perfil de saúde da população devido a pandemia, desenvolvimento da ciência e tecnologia da profissão e mercado. E tal fato pode ser observado em estudos recentes que projetam que a cada 3 pessoas no planeta, uma vai precisar dos serviços de reabilitação nos quais o fisioterapeuta está inserido e na análise do fórum econômico mundial que enfatiza diversas habilidades da fisioterapia como promissoras nos próximos 10 anos. Além dessas muitas oportunidades, o fisioterapeuta em início de carreira pode começar a exercer a profissão com um investimento relativamente baixo em relação a outras profissionais no que se refere a equipamentos e acessórios, já que a essência da Fisioterapia são os exercícios, recursos físicos, manuais e muito conhecimento!

Entrevista Nota 10 - O fisioterapeuta também pode ser um empreendedor?

Paulo Henrique Palácio - Claro! E é interessante ter essa mentalidade diante das rápidas transformações no mundo do trabalho que exigem dos fisioterapeutas não somente o conhecimento técnico, mas também de gestão, marketing, empreendedorismo e investimentos, com suporte de profissionais dessas áreas sempre que necessário. É um momento de ampliar horizontes e enxergar que o entrega do serviço de fisioterapia como um atendimento domiciliar de um paciente com dor lombar pode estar atrelada à uma experiência exitosa em relação à recuperação, mas também pelo valor agregado que tal contato pode oferecer, desde a forma como o fisioterapeuta se apresenta e se comunica, como também o cuidado pós-atendimento e benefícios associados que podem movimentar uma cadeia de produtos e serviços bem interessante. Ou seja, o fisioterapeuta tem grandes possibilidades, literalmente em suas mãos, para empreender e se realizar profissionalmente coerente com suas perspectivas pessoais. Basta procurar na internet exemplos de fisioterapeutas que desenvolveram novas tecnologias no mercado, criaram franquias de seus negócios, ampliaram serviços de consultoria e aprimoramento profissional, entre muitos outros exemplos.

Entrevista Nota 10 - Para finalizar: que mensagem deixa para aqueles que pensam em cursar Fisioterapia? É uma carreira desafiadora?

Paulo Henrique Palácio - Como toda profissão, é desafiadora! E tem alguns “pré-requisitos”: exige uma afinidade pelo estudo do movimento humano, dos agentes físicos e recursos manuais, além de gostar de acolher e conversar com as pessoas, pois dentre os profissionais de saúde, os fisioterapeutas são aqueles que podem mais tempo em contato com os pacientes ao longo do processo de reabilitação. E como sempre falo para as pessoas que querem cursar Fisioterapia e para os alunos(as) da graduação é fundamental o autoconhecimento, conversar com profissionais que tiveram êxito em suas carreiras e ter minimamente consciência do querem fazer ao longo da vida. E se a Fisioterapia estiver nesse planejamento de vida, não tenho dúvida que ela irá contribuir para a realização pessoal e profissional.