null Escola Yolanda Queiroz: Um lugar para transformar vidas

Qua, 22 Junho 2022 11:56

Escola Yolanda Queiroz: Um lugar para transformar vidas

Escola celebra 40 anos com o trunfo de formar gente comprometida em melhorar o mundo. Professoras, mães e alunos contam como tiveram suas vidas modificadas por um ensino mais humanizado e interdisciplinar


Professora na escola há nove anos, Eurides Bezerra orgulha-se em contribuir para a educação de tantos jovens por meio da Escola Yolanda Queiroz (Foto: Ares Soares)
Professora na escola há nove anos, Eurides Bezerra orgulha-se em contribuir para a educação de tantos jovens por meio da Escola Yolanda Queiroz (Foto: Ares Soares)

É hora do recreio. Crianças de uniforme deixam as salas de aula, às dezenas, e circulam agitadas pelo pátio da Escola Yolanda Queiroz, instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz. O riso soa alto enquanto brincam e se divertem. Naquela cena corriqueira de uma manhã de junho, paira algo especial. 

É que, ali, os depoimentos seguem uma mesma direção: a de que é muito difícil passar por aquelas salas, seja como aluno ou professor, sem sair de alguma maneira transformado. Um trunfo gigante para um lugar que há 40 anos se dedica a formar gente — com toda a força que essa palavra pode carregar para transformar o mundo.

“Essa escola, para a minha família, foi o céu na terra”, diz Conceição Lins, sentada em um banco de madeira naquele mesmo pátio. Mãe de uma aluna de 10 anos e de outra de seis, ela conta que foi ali que as duas encontraram um ensino de qualidade e um ambiente acolhedor para se desenvolver, apesar de terem personalidade e necessidades totalmente diferentes.

Educação com acolhimento e inclusão


As irmãs Ana Letícia e Mariana estudam há dois anos na Escola Yolanda Queiroz
(Foto: Ares Soares)

Mariana, a mais nova, é muito tímida e não conseguia se adaptar em nenhuma escola que passava. “Ela não interagia, mas aqui chorou um pouco no primeiro mês e depois se sentiu em casa”, diz Conceição. Já a mais velha, Ana Letícia, é uma menina de 10 anos que tem síndrome de down. Extrovertida, ela conta com empolgação o quanto gosta de atuar como modelo para campanhas publicitárias.

“Eu aaaaamo fotografia”, diz a estudante com a voz agitada, enquanto a mãe penteia seu cabelo castanho claro e a prepara para as imagens desta reportagem. Ana Letícia conta que pretende ser fotógrafa quando crescer e segue animada para posar no seu lugar favorito da escola: o parquinho. “É muito legal aqui! Vem, irmã, sair na foto comigo. Você vai ficar muito linda também”, diz para Mariana, que a acompanha.

A chance de estudar na Escola Yolanda Queiroz foi um alento para a família. Se por um lado a postura mais humanizada dos professores deu o acolhimento que Mariana precisava, por outro a presença constante de universitários do Centro de Ciências da Saúde da Unifor deram o suporte necessário à condição de Ana Letícia.

Contando com a ajuda da escola no seu desenvolvimento nos últimos anos, ela hoje se sente mais incluída e feliz, para a tranquilidade da mãe. “Aqui apostam demais nas minhas filhas. Elas aprendem dentro e fora da sala de aula. O nível é altíssimo”, resume Conceição.

Uma escola para formar cidadãos


A Escola Yolanda Queiroz atende gratuitamente mais de 500 estudantes
(Foto: Ares Soares)

Esse resultado sentido por ela provavelmente vem da filosofia sociointeracionista que a escola adota — e que tem dado valiosos frutos à medida em que trata da dimensão sociocultural do estudante. Nela, os alunos são estimulados a buscar o conhecimento sob as mais variadas vertentes, e os ambientes para o aprendizado extrapolam as salas de aula. 

Uma pequena horta, a sala de música, o pátio e até mesmo os espaços e laboratórios da vizinha Unifor viram lugar para aprender sobre o currículo básico, mas também sobre cidadania e sustentabilidade. “A interação entre as crianças e com o ambiente faz com que o aprendizado seja mais significativo”, explica a diretora Mônica Galeão.

A escola atende cerca de 520 crianças, das séries iniciais da Educação Infantil até o 5º ano do Ensino Fundamental. Lá, elas vivenciam a cultura e a arte, têm aulas de música, aprendem idiomas e acessam atividades que buscam despertar consciência ambiental — algo fundamental para os adultos do futuro em um mundo que enfrenta a emergência climática. 


Diretora Mônica Galeão na horta que faz parte do aprendizado dos alunos
(Foto: Lucas Plutarcho)

“A Escola Yolanda Queiroz é um ambiente de conhecimento, qualidade de vida e de transformação social. Nossas crianças encontram oportunidades aqui para que possam transformar o mundo em que vivem”, resume Mônica. 

Lugar que muda vidas

Uma coleção de histórias de transformação vêm se multiplicando na escola, que oferece ensino gratuitamente há 40 anos, período em que contribuiu para a educação de mais de 20.000 crianças em Fortaleza. Mônica conta que tudo começou quando lideranças comunitárias do bairro Edson Queiroz procuraram o chanceler Airton Queiroz para sensibilizá-lo sobre a necessidade de mais escolas naquela região, marcada pela vulnerabilidade social e carente de mais opções de ensino.


Mais de 20.000 crianças passaram pela Escola Yolanda Queiroz nas últimas décadas
(Foto: Ares Soares)

Não foi difícil convencê-lo. Um projeto de alfabetização de crianças que funcionava em uma sala do NAMI da Unifor teve suas vagas ampliadas e, depois, foi ganhando corpo até se converter na Escola Yolanda Queiroz. Hoje, os alunos recebem gratuitamente material escolar, refeições e fardamento, enquanto acessam um ensino de qualidade. 

Um campus à disposição

O diálogo com a Universidade segue fortalecido ano após ano. Além de ter vários espaços do campus à disposição, a escola conta com o apoio de alunos dos cursos de várias áreas. “A escola também é um campus aberto às práticas universitárias. Temos apoio da Medicina, da Fonoaudiologia, da Odontologia, da Nutrição, da Psicologia…”, enumera a diretora Mônica.

É por isso que a Escola Yolanda Queiroz é hoje lugar de apoio até para as famílias dos alunos, que recebem orientações de saúde e prevenção de doenças. Se os benefícios para a comunidade ao entorno são fortes, o mesmo já é sentido por moradores de outros bairros da cidade. É que a escola recebe tanto alunos do bairro Edson Queiroz quanto filhos de funcionários da Universidade de Fortaleza, que vêm de outros locais da cidade.

O orgulho de ver a mudança acontecer

Este sentimento de transformação não paira só entre as famílias dos estudantes. Desemboca com força também em quem trabalha na escola. “Meu orgulho de viver isso é imensurável. Tenho nove anos de casa e não quero sair”, diz a professora Eurides Bezerra, que ensina mais de 70 alunos, de quatro turmas.

Na porta do 4º ano A, um cartaz com seu nome dá pistas do motivo. A “tia”, como lhe chamam os estudantes, é tratada com muito carinho naquela sala de aula repleta de imagens de escritores como Patativa do Assaré e Rachel de Queiroz nas paredes. No birô, um globo, o mundo que Eurides acredita ajudar a transformar com aquelas crianças que, mais na frente, irão “futurar”.

“Desde o início, fiquei encantada com a ideia do social, de fazer a diferença na vida das crianças e de suas famílias”, ressalta a professora. Tanto que mudou até o seu projeto de mestrado na época para contemplá-la. Eurides apresentou o trabalho no Paraguai, onde foi aprovada com louvor. 

“Aqui, eu aprendo e ensino. A escola é um verdadeiro lar de talentos. A gente vê o avanço das crianças e a mudança de comportamento por uma possibilidade de ensino que foi dada. Estou muito feliz de trabalhar aqui e poder ver esta mudança acontecer”, acrescenta.

Uma escola reconhecida nacionalmente 

Toda essa experiência da Escola Yolanda Queiroz foi reconhecida nacionalmente pelo Prêmio Nacional de Gestão Educacional pouco depois que Eurides se juntou à equipe de professores. “Foi uma chegada triunfal a minha”, diz, rindo, na porta de sua sala de aula.

Do lado de fora, o burburinho de crianças. Ali toda a comunidade escolar está envolvida com o ensino. Um grupo de alunos passa em fila pelo pátio, vindo da natação. No contraturno, há quem descubra talentos na orquestra de sanfonas, nas aulas de canto, no aprendizado com artistas plásticos. 

A cultura dá um combustível especial para os estudos, assim como as bolsas de estudo oferecidas pela Fundação Edson Queiroz. Por meio de uma parceria com os colégios Ari de Sá e Master, a cada ano, egressos são contemplados com uma bolsa para cursar do Ensino Fundamental II até o Ensino Médio. É o caso de Mariana Menezes, que concluiu o 5º  ano depois de seis anos na escola e agora usufrui de uma bolsa no Master.

Apoio em novas etapas


Dalva Menezes com a filha, Mariana, egressa da Escola Yolanda Queiroz
(Foto: Arquivo Pessoal)

“O que mais me marcou na Escola Yolanda Queiroz foram as professoras, porque, além de tutoras, eram minhas amigas e se importavam comigo. Eu vou sentir muita falta de todas elas e sempre vou lembrar com muito carinho”, ela diz.

Sua mãe, Dalva Menezes, conta que o vínculo é tão forte que a escola se preocupa até em preparar os alunos do último ano para mergulharem numa nova etapa. É que o momento de transição não é fácil. “Os amigos dela são os mesmos de sempre, os colegas de lá. Eles se viram crescer, se comunicam sempre. A Mariana aprendeu sobre meio ambiente, frequentou espaços culturais. A escola foi fundamental para o desenvolvimento dela”, afirma Dalva.

No futuro, Mariana ainda poderá se juntar ainda a outros alunos que receberam bolsa para cursar o Ensino Superior na Unifor. É que, ao fim da jornada escolar, quem tiver bom resultado no vestibular da Universidade pode ter o benefício para fechar mais este ciclo de conhecimento. 

Quatro décadas para celebrar


Vivenciar as artes é um dos pilares da Escola Yolanda Queiroz
(Foto: Lucas Plutarcho)

Para celebrar tantos frutos ao longo dos 40 anos de história da Escola Yolanda Queiroz, uma programação especial aconteceu no dia 22 de junho, que incluiu solenidade com a presença da presidente da Fundação Edson Queiroz, Lenise Queiroz RochaClique aqui para saber mais.

A festa contou com apresentações da Orquestra Sanfônica e do Coral Infantil da Escola. Show de mágica, brinquedos infláveis, lanches e entrega de lembrancinhas completaram o dia de celebração para as mais de 500 crianças que estudam na instituição. 

Do alto de seus quase 11 anos, a estudante Ana Letícia, que também espera comemorar seu aniversário mês que vem na escola, celebra o lugar: “É uma escola muito legal. Meu lugar preferido é o parquinho, mas o que eu mais gosto é de brincar com os amigos que fiz aqui”.