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Sex, 30 Julho 2021 15:18

Documentário traz à luz o legado cultural do repentista Dimas Batista

“De Repente, Dimas” tem direção do professor Valdo Siqueira e participação de alunos e egressos do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor


Dimas Batista e Otacílio Batista (Foto: Arquivo da família)
Dimas Batista e Otacílio Batista (Foto: Arquivo da família)

Poeta e repentista admirado por intelectuais e artistas da estirpe de Ariano Suassuna, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia, Antônio Nóbrega, Zé Ramalho e Alceu Valença, dentre outros, Dimas Batista é um ilustre desconhecido para uma grande parte do estafe cultural do Brasil. No entanto, um projeto audiovisual realizado pelo Instituto Brasil de Dentro, organização não-governamental de Limoeiro do Norte (CE), pretende lançar luz sobre a história, o talento e a obra desse pernambucano que, mesmo sendo considerado por alguns como um cantador repentista de inigualável envergadura poética e cultural, é pouco reverenciado e valorizado. O documentário tem apoio da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult/CE).

As primeiras imagens de “De Repente, Dimas” já começaram a ser gravadas em Tabuleiro do Norte, sob direção de Valdo Siqueira, realizador audiovisual e professor de Cinema da Universidade de Fortaleza (Unifor), que também assina o roteiro ao lado do compositor e escritor Eugênio Leandro. E por que em Tabuleiro? César Costa, gestor cultural do Brasil de Dentro, explica que, na década de 40 do século passado, Dimas Batista resolveu morar no Vale do Jaguaribe, mais precisamente em Tabuleiro do Norte, onde mais tarde casaria, teria uma filha, Dicélia Guedes Patriota, e faria três graduações: Letras, Pedagogia e História (em tempo: ele também fez Direito, mas foi na Paraíba). E o documentário não poderia vir em melhor momento, afinal, em 2021 comemora-se o centenário de nascimento de Dimas Batista. O filme deverá começar a ser exibido em outubro deste ano.

O amor pela cantoria ritmada Dimas traria do berço, não coincidentemente, o mesmo que gestou os irmãos Lourival e Otacílio, com os quais chegaria a compor o famoso trio conhecido por Irmãos Batista. “Dono de um capital cultural que abarca referências desde a Antiguidade Clássica grega, passando pelas mitologias, adentrando na Historiografia Brasileira, alcançando o mais alto grau de conhecimento das situações mundanas, Dimas ficou reconhecido num círculo restrito como um dos poetas que melhor representou a poesia cantada por meio do repente e da cultura popular, tanto quanto seus irmãos mais famosos”, pontua Valdo Siqueira.

César Costa explica que a ideia do documentário começou a nascer em 2015, quando o Brasil de Dentro produziu o documentário “A Tradição do Repente no Vale do Jaguaribe”. Cesinha, como é mais conhecido, revela que, durante as filmagens em Tabuleiro do Norte, “o Valdo Siqueira conheceu a filha de Dimas, Dicélia Patriota, que mora na mesma casa da família até hoje e tenta preservar seu acervo em um aposento do domicílio. A partir daí, Valdo e Eugênio começaram a elaborar o projeto, que chegamos a propor em alguns editais públicos, mas somente agora, conseguiu sair do papel”.

Já a relação de Eugênio Leandro com a arte popular do Vale do Jaguaribe remonta à juventude, tendo feito parte de muitos movimentos culturais da região, incluindo participações no grupo Coral Limoeirense, criado e dirigido por Aécio de Castro, na década de 70 do século passado. “Participei de grandes noitadas de cultura popular pelo Vale e, numa delas, no auditório da Escola Normal, em 74, dividi palco com os três irmãos Batista: Lourival, Otacílio e Dimas. Por muito tempo, enquanto morava em Limoeiro, topava com ele pela cidade, ele já professor da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam) e, assim como os poetas Zé Amâncio, Hercílio Pinheiro, Antonio de França, dentre outros tantos que integram esse figural jaguaribano, são nomes importantes do imaginário dessa região, tão pouco lembrados e, daí, a necessidade de evidenciar isso, quando possível”.

Vale do Jaguaribe

Além de retratar o legado artístico de Dimas Batista, o documentário acaba por destacar também o contexto e a efervescência de uma região que transpira cultura 24 horas por dia. “Não tem como negar a importância do Vale do Jaguaribe na cultura popular não só do Nordeste mas do Brasil. Aqui, tanto se cria poetas como atrai poetas de outros estados, como Rogaciano Leite, Patativa do Assaré, Oliveira de Panelas, Geraldo Amâncio e tantos outros. E acaba virando lar para poetas de outras terras, como Hercílio Pinheiro, Antônio Nunes de França, Zé Cardoso, que são do Rio Grande do Norte, e os irmãos Patriota, pernambucanos: Otacílio, que casou com uma limoeirense, e seu irmão Dimas, que casou com uma tabuleirense e lá residiu até falecer”, salienta César Costa.

E o documentário acaba tendo também esse lado de resgatar e compartilhar essa cultura para outros públicos. A gente sabe que existe uma carência desses registros, pelas poucas iniciativas e apoios, principalmente, nas pequenas cidades do interior, mais distantes das políticas públicas de cultura. As pessoas, as famílias, os admiradores até que fazem a sua parte: guardam seus pequenos acervos por décadas, mas acabam desaparecendo, sendo esquecidas, por falta desse cuidado. São poucas as instituições de guarda desse material, que possam receber doações de algo mais importante. Então, quando vem a oportunidade de, pelo menos, fazer esse registro audiovisual, que garanta um mínimo de memória, procuramos realizar. É um projeto que tentamos realizar antes, mas que ganha maior importância agora por vir, justamente, no ano do centenário de nascimento do poeta Dimas Batista”, complementa César Costa.

Curso de Cinema e Audiovisual

A produção do documentário contribui também para a formação de mão de obra especializada, já que conta com egressos e alunos do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza. Segundo Valdo Siqueira, “a graduação da Unifor tem ajudado a pensar e formar profissionais de cinema em suas mais variadas áreas, a ponto de, em um único set de filme, encontrarmos alunos e egressos trabalhando, desde estagiários de produção a profissionais que assumem funções de elaboração e execução audiovisual”, explica.

Sobre o Instituto Brasil de Dentro

O Instituto Brasil de Dentro é uma associação sociocultural, formada por amigos que gostam das artes. O foco principal é a realização de projetos culturais e de responsabilidade social, contribuindo para o desenvolvimento da região do Vale do Jaguaribe. Além dos documentários “Brinca Faceira” (2006), A Tradição do Repente no Vale do Jaguaribe (2014) e “O Povo do Outro Lado” (2015), o Instituto Brasil de Dentro realiza o antigo Festival de Sanfoneiros de Limoeiro (atualmente em sua 13ª edição), o projeto Jornada das Letras e a Feira do Livro de Limoeiro (hoje na 7ª edição), além de três edições do projeto Arte em Movimento (na linha da sócio-economia solidária) e o Sons do Rio, em cidades banhadas pelo rio Jaguaribe, Iguatu, Limoeiro e Aracati, além de outros projeto socioculturais.

Sobre o curso de Cinema e Audiovisual

O curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza é para quem deseja trabalhar com criação e realização de projetos audiovisuais, direção de cinema e vídeo, de fotografia e arte, roteiro, produção de TV e de cinema, edição de som e imagem. A graduação é voltada para os profissionais que desejam criar e realizar seus próprios projetos autorais, assumir funções em produtoras de cinema e vídeo, emissoras de televisão e agências de publicidade, além de trabalhar conteúdo para web, mídias móveis e jogos eletrônicos.

Ficha Técnica

Direção: Valdo Siqueira
Roteiro: Valdo Siqueira e Eugênio Leandro
Direção de fotografia: Leandro Gomes
Som direto: Pedro Sá
Estagiários de produção:
Clara Capelo (Fortaleza)
José Neto  (Vale do Jaguaribe)
Samuel Sousa: Segundo assistente de câmera
Uirá Dantas: Primeiro assistente de fotografia da segunda unidade 
Raimundo Charles: Segundo assistente de fotografia da primeira unidade
Luís Cláudio Santos: Still e making off
Realização: Instituto Brasil de Dentro