Especial 8 de março: por que ler mulheres?

O dia 8 de março é conhecido, internacionalmente, como uma data para se relembrar a centenária (e diária) luta das mulheres por igualdade de gênero, nos vários âmbitos da sua vivência e existência política, social, econômica, cultural, e civil.

Por muito anos, foi negado às mulheres tudo aquilo que não estivesse nos limites domésticos: a educação, a ciência, o trabalho, o voto, a autonomia… criando um imaginário social de subestimação do intelecto feminino, além da desumanização da própria mulher, sempre no lugar de subserviência, subjugação e silenciamento. E mesmo com parte desses direitos conquistados - direito ao mercado de trabalho, ao voto, à educação formal, etc. -, este imaginário sexista continua sendo um obstáculo para atingir a plenitude da igualdade de gênero.

Ao longo da história, mulheres como J.K. Rowling, as irmãs Brontë, Jane Austen, Mary Shelley, encontraram dificuldades ao tentar publicar suas obras sob seus próprios nomes,  e algumas tiveram que submetê-las de maneira anônima ou sob pseudônimos masculinos, para terem seus trabalhos aceitos pelas editoras e pelo público. O mito da incapacidade nata feminina prejulgava a qualidade das obras feitas por mulheres, e caso estas obras correspondessem ao conceito de qualidade estabelecido pela crítica, elas tinham sua autoria questionada. Este foi o caso de “O Quinze”, de Rachel de Queiroz.

Todos esses percalços dificultaram a produção e o acesso à produção literária feita por mulheres. Segundo a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2019, apesar de as mulheres corresponderem a 54% do público leitor do país, dos 15 autores mais lidos, 10 são homens. 

A representatividade feminina é importante no mercado de editorial para diminuir da desigualdade de gênero através do rompimento com a crença de que somente homens podem escrever grandes obras. Democratizar o acesso à produção literária feminina significa romper com o silenciamento histórico reservado a elas, e dar voz a tantas outras que se veem desencorajadas a produzir obras incríveis, devido aos esteriótipos de gênero. Ler mulheres é descobrir perspectivas invisibilizadas, mas que resistem, apesar dos pesares.

Portanto, preparamos uma lista com 8 grandes escritoras brasileiras que merecem estar nas metas de leitura de todos aqueles que não abrem mão da companhia de um bom livro:

1 - Maria Firmina dos Reis: maranhense e negra, é considerada a primeira romancista do Brasil. Seu romance “Úrsula”, de 1859, é um retrato do seu posicionamento na luta abolicionista.

2 - Emília Freitas: cearense e também engajada na luta abolicionista, é considerada a pioneira da literatura fantástica no Brasil com sua obra “A Rainha do ignoto”, de 1899.

3 - Rachel de Queiroz: cearense, jornalista, tradutora, e primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras. Sua obra “O Quinze”, publicada em 1930, quando a autora tinha apenas 20 anos, é um marco da segunda geração da literatura modernista no Brasil.

4 - Lygia Fagundes Telles: paulista, advogada, é considerada a mais célebre escritora brasileira viva, também membro uma imortal da ABL. Sua obra “Ciranda de pedra” é marcada pela introspecção dos personagens focada nas experiências pessoais.

5 - Clarice Lispector: ucraniana, autodeclarada pernambucana, considerada a autora judia mais importante desde Franz Kafka. Sua obra “A Hora da Estrela”, de 1977, última publicação da escritora em vida, é considerada por alguns uma obra autobiográfica.

6 - Carolina de Jesus: mineira, negra, catadora de papel. Frequentou a escola por apenas dois anos. Recentemente, ganhou título póstumo de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ficou conhecida por sua obra “Quarto de despejo” (1960), que, na verdade, é um diário onde contava o seu dia-a-dia na favela do Canindé, em São Paulo.

7 - Cecília Meireles: fluminense, jornalista, musicista, professora e ativista pela educação. Sua obra póstuma “Cânticos”, de 1981, revela sua admiração pela corrente filosófica espiritualista, que também corresponde a Geração de 45 do modernismo brasileiro.

8 - Conceição Evaristo: mineira, professora universitária, ativista do movimento negro. Sua obra “Ponciá Vicêncio", de 2003, traz temas sobre opressão racial e escravidão.

Confira as obras disponíveis de Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Cecília Meireles, entre outras autoras brasileiras na Busca Integrada.

Referências

10 AUTORAS que publicavam sob pseudônimos masculinos. Revista Cult, 23 abr. 2018. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/10-autoras-que-precisaram-de-pseudonimos-masculinos-para-publicar-suas-obras/. Acesso em: 08 de Mar. 2021.

AGUILAR, Andrea. Benjamin Moser: “O culto brasileiro a Clarice Lispector embaça sua vida”. El País, 18 out. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/16/cultura/1508155832_784760.html. Acesso em: 08 de Mar. 2021.

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UFRJ reconhece Carolina Maria de Jesus como Doutora Honoris Causa. Observatório do terceiro setor, 04 mar. 2021. Disponível em: https://observatorio3setor.org.br/noticias/ufrj-reconhece-carolina-maria-de-jesus-como-doutora-honoris-causa/. Acesso em: 08 de Mar. 2021.


Thailana Tavares - Bibliotecária do Setor de Processamento Técnico