Educação financeira: saiba como poupar desde cedo pode ajudar no futuro

Especialista dá dicas para que os jovens possam planejar melhor seus gastos e investir de forma segura

Com certeza você, leitor, já deve ter se deparado com a expressão "educação financeira". Antes de aprofundar o significado desse termo, é importante explicar que o conceito de "educação" diz respeito ao processo de aprendizagem capaz de transformar vidas a partir do compartilhamento de experiências, dados e informações; e o termo "financeira", bom, remete ao universo monetário e suas diversas ramificações.

Desde 2020, de acordo com as novas diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC) para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), todas as escolas ao redor do Brasil precisariam ter a Educação Financeira em sua grade curricular. O tema não é obrigado a ser configurado como disciplina específica, e pode ser incluído em outras matérias.

Essa determinação surge em um período de extrema necessidade, especialmente se o contexto econômico brasileiro for levado em consideração. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o cidadão do maior país da América Latina atribui uma nota média de 6,3 para o seu próprio nível de educação financeira, em uma escala de 1 a 10.

O cenário atual resulta da carência de um ensinamento direcionado para essa área monetária. Esse campo da educação ainda é menosprezado por grande parte da população, especialmente pelos jovens, que não são estimulados a terem mais controle de seus gastos e a estudarem sobre a sua situação econômica e a de seu país. Mas, afinal, o que é educação financeira e como os jovens podem se beneficiar com essa forma de aprendizado?

Por dentro do universo monetário

A educação financeira vai muito além do ato de economizar. Ela visa um melhor entendimento do universo do dinheiro, e compreende um conjunto de maneiras e ferramentas que auxiliarão o indivíduo a navegá-lo. Além disso, engloba práticas e habilidades que serão de grande ajuda não só no âmbito financeiro como também no pessoal.

"Educação financeira nada mais é do que ensinar as pessoas a como lidar com as suas finanças, ajudá-las a adquirirem essa noção do que é receita e que as despesas não devem superá-las, e que é importante gerar uma poupança e colocar o dinheiro para trabalhar pra gente. É dar às pessoas conhecimento para que elas possam lidar melhor com seu dinheiro, e assim poderem ter uma vida melhor, mais confortável, sem precisar passar perrengue", afirma Kayline Moreira, professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Fortaleza.

Assim, esse processo de aprendizado tem como objetivo mudar a mentalidade das pessoas, para que elas possam potencializar seus ganhos financeiros e administrá-los da melhor forma possível, e envolve, além de fatores econômicos e monetários, as esferas emocionais e socioculturais.


Kayline Moreira, professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Fortaleza.  

Foco nos jovens

A faixa etária dos 18 aos 24 anos é marcada por muitas mudanças, e uma delas é o início da liberdade financeira, quando os jovens passam a trabalhar e a ganhar seu próprio dinheiro, saindo, aos poucos, da dependência familiar. E é exatamente por isso que educar financeiramente os indivíduos que se encontram nessa fase é tão necessário.

Para a docente, que é mestra em Economia, a educação financeira é algo que deixa a desejar no Brasil. "A população não recebe essa educação, principalmente quando é jovem. Como a gente não tem isso na escola, algumas pessoas vão aprendendo na marra, e tem algumas que simplesmente chegam na vida adulta, começam a trabalhar, ganhar dinheiro, formam família e nunca foram educados", afirma.

Assim, a gestão econômica pessoal vai garantir que esses jovens tenham um controle maior sobre seu capital, e evitar que gastem suas economias de forma desnecessária e/ou exagerada, o que pode ser muito comum nessa idade. Aprender a gerenciar suas finanças também melhora o relacionamento dos jovens com o dinheiro, o que, consequentemente, permite que se preparem melhor para o futuro.

"Educação financeira é importante, e deveria ser um dos pilares da educação básica, porque isso é uma coisa necessária na vida das pessoas. Todo mundo que começa a trabalhar, ser remunerada, ganhar dinheiro, precisa saber como lidar com esse dinheiro, e quanto mais jovem melhor, porque aí a gente começa lá desde a mesada, desde o primeiro emprego, da primeira bolsa de estágio, a tratar bem o nosso dinheiro de forma que ele não fuja do nosso bolso", explica Moreira.

Essa compreensão mais profunda acerca das economias pessoais também resulta em um maior autoconhecimento por parte dos jovens, que passam a entender e analisar seus verdadeiros hábitos de consumo. Ter noção do quanto e com que está gastando ajuda muito na hora de se planejar e utilizar o dinheiro de forma inteligente e promissora.

"Então, é importantíssima sim a educação financeira para o planejamento, especialmente quando a gente é jovem, porque o que a gente aprende quando é jovem é o que desenvolvemos enquanto cultura, e é o que levamos para a nossa vida adulta", reconhece a especialista em planejamento financeiro e finanças comportamentais.

Dicas importantes

Atualmente, aprender sobre finanças pessoais está basicamente ao alcance de um toque. A internet e a tecnologia como um todo são grandes aliadas dos jovens nessa busca por um melhor entendimento acerca de suas finanças. Hoje, existem plataformas, canais e aplicativos voltados para o desenvolvimento de práticas econômicas sustentáveis, e que visam auxiliar o jovem, com apenas alguns cliques, a fazer planejamentos de curto, médio e longo prazo.

"Existem muitos aplicativos que os jovens podem fazer seu controle financeiro, mas não necessariamente precisa ser feito por meio deles. Hoje em dia tem as agendas, os planners financeiros, para quem prefere escrever. Tem também as velhas planilhas do Excel, tem vários modelos de planilha na internet para quem prefere. Então, assim, dá para fazer de várias formas, o importante é que tenha esse controle financeiro", enfatiza Kayline.

Para aqueles que preferem o meio digital para controlar os gastos, a professora indica o aplicativo Mobills, e afirma que toda a sua família usa. E para os que não sabem por onde começar a se aventurar no universo do dinheiro, Moreira aconselha a anotar todas as receitas e despesas, fazer o mapeamento desses dados, encarar as dívidas (caso existam) e fazer um planejamento para pagá-las. Além disso, ela reforça a importância da diminuição de gastos, e, se possível, indica ao jovem a começar uma poupança o quanto antes.  

"Tudo é uma questão de hábito. Adquirir o hábito de se organizar. É você procurar o que funciona para você. 'Qual é o método que funciona pra mim?', 'Como eu me sinto melhor?', 'O que funciona melhor para que eu desenvolva esse comportamento de anotar, de registrar as minhas coisas?', 'O que favorece mais a isso?'. Então, se entender, buscar a ferramenta que melhor se adeque para as suas realidade, para o tipo de pessoa que você é e mandar brasa", finaliza.