Inflexão das expectativas e retomada econômica

O ano de 2020 será de profunda recessão. Conforme as previsões mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB mundial encolherá 4,9% em decorrência da extraordinária redução da atividade econômica provocada pela pandemia da Covid-19. Na Zona do Euro e nos Estados Unidos o tombo será maior, 10,9% e 8,0%, respectivamente. No Brasil o declínio do PIB será de 9,1%.

A boa notícia, de acordo com o FMI, é que a recessão será em “V”, ou seja, após queda vertiginosa a recuperação da atividade econômica será acelerada. Em 2021 a economia mundial crescerá 5,4% enquanto a economia brasileira se expandirá 3,6%.

A saída rápida da recessão pode ser explicada em larga medida pela adoção, quase que sincronizada, de políticas monetárias e fiscais expansionistas pela maioria dos países. As políticas anticíclicas, todavia, podem produzir alguns efeitos colaterais, notadamente no equilíbrio das contas públicas. A princípio, não há ameaça de inflação dado o tamanho da recessão.

Cenário local

No que concerne ao ritmo da atividade econômica, no Brasil e no Ceará, cabe registrar que enquanto o crescimento brasileiro em 2019 foi de 1,1%, no Ceará a expansão econômica foi de 4,27%. Mantido o padrão dos anos recentes de comportamento da economia cearense, qual seja, quando o Brasil cresce, o Ceará cresce acima da média nacional, e quando o Brasil desacelera, o Ceará desacelera mais do que o país, o ano de 2021 será um ano de rápida e elevada expansão da atividade econômica no Estado.

No Ceará, o ambiente econômico para empreender tem melhorado progressivamente nos últimos anos. As contas públicas equilibradas conferem ao estado maior capacidade de investimento. O investimento público, por sua vez, tem efeito multiplicador sobre o investimento privado. Os investimentos estruturantes e a atração de capital produtivo estrangeiro aliados aos avanços educacionais, fomentando o capital humano, contribuem para uma maior e melhor dinâmica econômica. Cabe também registrar os avanços tecnológicos e a modernização da Junta Comercial do Estado do Ceará que tem permitido a formalização de novas empresas em tempo recorde.

Empreendedorismo de oportunidade

Apesar de representar apenas 2,1% do PIB brasileiro, o Ceará é a terceira maior economia do Nordeste. Entre 2015 e 2019 as exportações cearenses saltaram de 0,55% para 1,01% das exportações brasileiras, com os produtos metalúrgicos respondendo por 53,36% da pauta exportadora.

A expectativa é que no período pós-Covid, que se aproxima, ocorra, no Brasil e no Ceará, uma expansão do empreendedorismo de necessidade e do empreendedorismo de oportunidade. O primeiro como consequência do aumento do desemprego e o segundo pelos novos desafios e oportunidades da economia híbrida, com crescente virtualização, que emergirá dessa crise pois “o futuro não será mais como era antigamente”.

Embora governos federal, estaduais e municipais, empresas e famílias, saiam da crise mais endividadas do que quando entraram, algumas variáveis econômicas jogarão a favor. As medidas de política monetária apontam para um volume de crédito maior e menos caro, taxa básica de juros e inflação que podem ficar abaixo de 2% até o final de 2020 e uma capacidade ociosa instalada que ajudará a retomada da economia.

Ricardo Eleutério Rocha  - Economista, professor dos Cursos de Administração, Economia e Jornalismo da Universidade de Fortaleza e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará