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Seg, 16 Janeiro 2023 16:11

Entrevista Nota 10: Jari Vieira e a celebração da cultura nordestina

Fotógrafo e docente da Universidade de Fortaleza, Jari Vieira coordena o projeto Pau de Arara, onde alunos percorrem o interior do Ceará e se reaproximam da cultura local


Jari é professor dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda da Unifor (Foto: Divulgação/Pau de Arara)
Jari é professor dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda da Unifor (Foto: Divulgação/Pau de Arara)

A 17ª edição do projeto Pau de Arara aconteceu no último mês de dezembro, quando estudantes dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza foram a Juazeiro do Norte. No Cariri, os participantes da iniciativa visitaram a Fundação Casa Grande, em Nova Olinda (510 km de Fortaleza), e desenvolveram produtos de cunho fotográfico e documental, orientados por professores da Unifor.

Aproximar a cultura do Ceará do ambiente universitário é um dos objetivos do Pau de Arara. Concebido em 2004, o projeto nasceu de um passeio fotográfico ao Centro de Fortaleza. À frente da proposta desde a sua concepção, o professor Jari Vieira, documentarista da vida sertaneja, aponta que a viagem propõe, acima de tudo, novas experiências aos seus participantes.

O projeto, que coroa o encerramento dos semestres letivos, conta com uma exposição dos trabalhos produzidos pelos alunos. Os produtos são apresentados na Fundação Casa Grande, onde são expostos. O docente lembra que o desejo de formular uma iniciativa ao estilo do Pau de Arara lhe apareceu quando ainda era estudante. Na época, não existia nada parecido com o projeto, lembra Jari.

Nascido em Juazeiro do Norte, Vieira revela que durante muito tempo não deu o devido valor aos aspectos artísticos e literários que povoam o Cariri. Ele afirma que o contato com elementos da cultura do Ceará na graduação foi importante para a concepção da viagem.

O portal NewsLink — espaço de prática e extensão da graduação em Jornalismo — conversou com o professor Jari sobre o projeto Pau de Arara e a sua importância no movimento de reaproximação com a cultura nordestina. O texto da Entrevista Nota 10 desta semana é de Carlos Enrique Correia, aluno do curso e integrante do laboratório.

Confira a entrevista na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 – Como o Pau de Arara foi concebido?

Jari Vieira – O Pau de Arara nasceu quando eu ainda era estudante. Na universidade, aprendi técnicas como xilogravura, retrato pintado e literatura de cordel. Tinha tido contato com isso quando criança, em Juazeiro do Norte. Então, durante a graduação, percebi que um dos maiores polos produtores de cultura nordestina era o Cariri. Me veio à mente a noção de que não dei o devido valor a tudo aquilo quando lá morei. 

Ao longo da minha formação, não participei de qualquer projeto da magnitude do Pau de Arara. Falando a verdade, não existia algo do tipo. Quando me formei, realizamos uma visita técnica à Fundação Casa Grande. Lá, conheci o ambiente e entendi o propósito deles, de dar educação às crianças. Achei isso fantástico. Quando voltei a Fortaleza, juntamente com uma célula chamada Central de Fotografia, comecei a conceber, em conjunto com os professores Wilton Lima e Alessandra Bouty, um projeto em que pudesse ser desenvolvido um passeio fotográfico. 

A partir daquele momento, começou a surgir o Pau de Arara. No início, fazíamos o passeio para o Centro de Fortaleza. Na época, alugamos uma topique para cerca de dez pessoas. Passávamos a manhã de sábado visitando pontos turísticos, como Praça do Ferreira e Praça José de Alencar. Era um programa fotográfico. Começamos a fazer isso todo final de semestre, a partir de 2004. Com isso, pensamos em dar um nome ao projeto que simboliza bem a cultura do nosso estado.

Entrevista Nota 10 – Como foram as primeiras viagens para fora de Fortaleza?

Jari Vieira – Nos foi dado um ônibus para visitar uma cidade e voltar à capital no mesmo dia. Começamos a ir para lugares não muito distantes como Aracati, Redenção, Quixadá e Guaramiranga. Entre 2012 e 2014, porém, demos uma pausa no Pau de Arara. Em 2015, as coordenações de Jornalismo e Publicidade e Propaganda apresentaram o projeto à direção do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG), que começou a nos apoiar. A partir disso, tivemos mais suporte para conseguir hospedagem e ônibus. Isso nos ajudou a passar mais dias fora.

Decidimos, então, voltar à Fundação Casa Grande, que foi onde tudo começou. Realizamos o Pau de Arara em 2015.2 com quatro dias de viagem. Foi um grande salto para o projeto. Fizemos uma exposição e um documentário para cada edição. Os trabalhos já foram exibidos no Shopping RioMar, inclusive. O que era feito pelos estudantes começou a percorrer toda a Universidade. 

Com o apoio do Centro, conseguimos romper as fronteiras do Ceará em 2016. Fomos à cidade de São Raimundo Nonato, no Piauí. Um ano depois, visitamos Exu, Serra Talhada e Triunfo, todos em Pernambuco. Isso consolidou o projeto como um marco no encerramento dos semestres.

Entrevista Nota 10 – Qual o principal objetivo do projeto?

Jari Vieira – No início, era algo muito voltado ao universo da fotografia. Com o passar dos anos, percebi que o Pau de Arara é um projeto de vivências. A interação proporcionada aos estudantes e as experiências da viagem são coisas muito importantes. O nosso objetivo é tirar as pessoas da zona de conforto. O Pau de Arara proporciona aos alunos a reaproximação com a cultura nordestina, seja por meio da fotografia ou da experiência.

Entrevista Nota 10 – Que balanço você faz do Pau de Arara?

Jari Vieira – Uma aluna certa vez escreveu: “Pau de Arara: ir perto para ver longe”. Essa frase sintetiza bem o projeto. Costumo dizer aos meus alunos que não é preciso ir à França ou à Itália para ampliar a sua bagagem cultural. Pode-se fazer isso lendo um livro, no sossego de casa. Ao mesmo tempo, ir ao interior do Ceará significa estar em um ambiente onde a cultura brota do chão. O nosso estado é muito rico. Espedito Seleiro e Patativa do Assaré são alguns dos nomes que marcaram a história cearense. Os estudantes percebem que o Nordeste é rico em cultura e história. Isso é o mais importante.