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Seg, 3 Outubro 2022 11:07

Entrevista Nota 10: Walter Cortez e os benefícios do corpo em movimento

Especialista em Fisiologia do Exercício e professor universitário da Unifor, Walter Cortez fala à Entrevista Nota 10 da importância dos exercícios para a saúde e explica mais sobre o trabalho do profissional em educação física


Walter Cortez é docente da Universidade de Fortaleza há 20 anos e mestre em Saúde Coletiva (Foto: Ares Soares)
Walter Cortez é docente da Universidade de Fortaleza há 20 anos e mestre em Saúde Coletiva (Foto: Ares Soares)

“A vida é como andar de bicicleta. Para se equilibrar, é preciso estar em movimento”, são com essas palavras que Albert Einstein aconselha seu filho por carta, no ano de 1930. O cientista alemão, que era conhecido por manter uma rotina diária de caminhadas, sabia da importância dos exercícios para manter a mente e o “físico” em harmonia.

O profissional de educação física Walter Cortez também compartilha do mesmo princípio: “Para a saúde, basta que o corpo humano se movimente em intensidade considerável para alterar o padrão sedentário”. Ele defende que tudo é válido, qualquer esforço físico de trabalho ou até algo da rotina doméstica. No entanto, é essencial que a tarefa seja feita da maneira adequada.

Docente do curso de Educação Física da Universidade de Fortaleza há 20 anos, Walter é especialista em Fisiologia do Exercício e em Atividade Física para Grupos Especiais. Mestre em Saúde Coletiva pela Unifor, ele é professor-orientador da Liga Acadêmica de Biodinâmica da Coluna Vertebral e coordenador nacional do Programa Fitsport, que faz mapeamento genético para exercícios físicos.

À Entrevista Nota 10 desta semana, Walter Cortez fala sobre a importância da realização de exercícios para a saúde do corpo humano, explica o que faz um profissional de educação física e dá dicas de como se tornar uma pessoa com vida ativa. 

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 – Como surgiu o interesse em estudar o corpo humano e suas potencialidades? A docência já fazia parte dos planos ao entrar nessa área de atuação?

Walter Cortez – Desde a época da escola, as matérias que eu mais gostava eram as de biologia. Dentro do mundo da biologia, o que eu mais gostava era do reino animal e, dentro dele, o que mais gostava era do corpo humano. Vem desde a minha infância esse interesse pelo corpo humano.

Comecei a despertar interesse em ser docente quando eu fazia a graduação de Educação Física na Unifor. Tive alguns professores que me inspiraram muito e um deles – em especial, o professor João Milton, de Fisiologia do Exercício – me fez decidir que eu queria ser professor de Fisiologia do Exercício. Entrei na universidade como docente em 2001 e fui contratado oficialmente em 2002 (fiquei esse primeiro ano como prestador de serviço). Eu entrei exatamente para ensinar na disciplina de Fisiologia do Exercício. Batalhei e consegui realizar esse sonho de graduando, que era ser docente da Unifor!

Entrevista Nota 10 – A prática regular de atividades físicas tem se provado, cada vez mais, como um aspecto essencial para uma vida saudável, longeva e ativa. No entanto, qualquer tipo de esforço ou prática são válidos para quem busca saúde?

Walter Cortez – Sim, para a saúde basta que o corpo humano se movimente em intensidade considerável para alterar o padrão sedentário, ou seja, para passar por adaptações. E isso serve para qualquer atividade física. Seu corpo não sabe se você está indo pra academia treinar ou se você está trabalhando em alguma função que requeira esforço físico elevado. O efeito benéfico para a saúde é o mesmo.

É claro que, quando você faz um treino físico, isso fica mais elaborado. Aí outros fatores melhoram, como o equilíbrio da musculatura, o controle das atividades de membro superior com membro inferior. A relação de exercícios resistidos – que são os que envolvem carga, tipo musculação –, em relação aos aeróbios (pedalar, andar, correr), ficam mais equilibrados, diversificando o condicionamento físico. Em um treino, a coisa fica mais organizada e mais equilibrada.

Mas, como eu disse: qualquer esforço físico de trabalho, de rotina doméstica, tudo é válido. Contanto que ele seja forte o suficiente para gerar as adaptações de melhora no organismo. Esforços muito fraquinhos não adaptam organismo nenhum porque a maioria das pessoas consegue realizar atividades consideradas leves sem grandes problemas, sem grandes esforços. O corpo não precisa melhorar para isso. Então os exercícios ou as atividades diárias precisam ser relativamente intensas para poder provocarem as benfeitorias em prol da saúde da pessoa.

Entrevista Nota 10 – Uma das atividades físicas mais populares nos últimos anos tem sido a musculação, geralmente praticada dentro das academias de ginástica. No que consiste esse exercício e quais são seus principais benefícios para o corpo?

Walter Cortez – A musculação é um dos exercícios resistidos, aqueles que eu falei na resposta anterior, que usam pesos para gerar esforço físico. Essa componente do esforço físico – relacionada a contrair o corpo, os movimentos e a musculatura contra cargas elevadas – é uma das componentes mais importantes da aptidão física para a saúde em relação à idade idosa. Ou seja, os idosos perdem muita força e massa muscular. E é o exercício resistido, sendo a musculação o mais interessante para isso, aquela atividade física que mais vai gerar benfeitoria para esses idosos. Então, sim, a musculação é muito importante pra saúde porque ela devolve ou mantém uma condição facilmente perdida com o passar da idade que é a capacidade de força e de resistência muscular.

Entrevista Nota 10 – Segundo o IBGE, o setor de serviços - que inclui boa parte do mercado fitness - teve um crescimento de 8,5% este ano em relação ao mesmo período de 2021. Com a popularização de academias, boxes de crossfit e demais locais para diversos tipos de exercícios, qual é o papel do profissional de educação física nesse cenário?

Walter Cortez – Esse crescimento só existiu por causa da profissão de educação física. Não haveria esse crescimento se os profissionais de educação física não existissem, tampouco se a profissão não fosse regulamentada. Porque, legalmente, só pode atuar prescrevendo exercício físico, o profissional de educação física devidamente registrado no Conselho Federal de Educação Física e nos Conselhos Regionais de Educação Física (CREFs). Se esse setor comercial e de saúde cresceu – o setor das instituições de treinamento físico –, isso só é possível por conta dos profissionais de educação física.

E o papel da nossa profissão é fundamental para promoção da saúde das pessoas porque é a única das profissões da saúde que promove a saúde sem ser através, exclusivamente, da recuperação de problemas. O sujeito saudável a gente consegue atuar na vida dele e fazer com que ele fique ainda mais saudável. Claro que outras profissões da área da saúde têm um pouco disso, mas a educação física tem o grande papel em cima disso: da promoção da saúde através dos exercícios físicos.

Entrevista Nota 10 –  Entendemos que o acompanhamento por um especialista na hora de praticar exercícios é algo importante e, dependendo do objetivo da pessoa, extremamente necessário. Mas, afinal, qual é a diferença entre o personal trainer e o profissional de educação física?

Walter Cortez – A pergunta é boa porque ela explica para sociedade o seguinte: é a mesma coisa. Um personal trainer é um profissional de educação, mas é um profissional de educação física que foi contratado particularmente para atender aquela pessoa ou aquele pequeno grupo. Então só é personal trainer um profissional de educação física. Isso não é uma condição separada da profissão, é somente uma forma do profissional de educação física atuar de modo particular. Como se fosse um médico particular que você vai, paga a consulta ou passa o seu cartão do plano de saúde, e ele te atende ali, tête-à-tête, pessoalmente. Ou, por exemplo, o médico do trabalho de uma grande empresa que está ali pra atender toda a comunidade de trabalho, atender um grupo de coletividade. É mais ou menos essa diferença.

Vou trazer exemplos: O profissional de educação física que trabalha como funcionário de uma academia de ginástica está ali para atender todas as pessoas que estiverem dentro da academia fazendo exercício físico no turno em que ele estiver trabalhando. Isso é comum e tradicional. Já um personal trainer está ali dentro da mesma academia para atender exclusivamente àquela pessoa que o contratou. Então é só um modo de atendimento, não é uma condição profissional diferente.

Entrevista Nota 10 –  Para concluirmos, você poderia dar algumas dicas para quem pretende ter um estilo de vida mais ativo e não sabe por onde começar?

Walter Cortez – A primeira coisa que a pessoa tem que saber é que se ela está movimentando o corpo, a cabeça se ativando em relação às atividades físicas, isso é o parâmetro número um para a promoção da saúde. Inclusive, mais recentemente, é uma das diretrizes primárias da Organização Mundial de Saúde. O sedentarismo, que é a falta de atividade física durante a vida da pessoa – mesmo que seja em algum momento dela, é sedentarismo –, é hoje a condição que traz o maior risco de ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis, que são doenças não são infecciosas, como as cardiopatias, a hipertensão, o diabetes. Elas trazem condições de saúde arriscadas para a vida do sujeito, que aumenta o grau de morbidade da pessoa.

Então qual a dica para se tornar ativo? Se mexer. Eu, como profissional de educação física, diria: Você que está vendo essa entrevista, procure alguma atividade física que seja divertida. Não importa qual, procure uma divertida que é para você ter interesse e prazer em praticá-la. O efeito benéfico da atividade física virá como consequência. E a manutenção dessa prática ocorrerá naturalmente porque você vai estar fazendo uma prática que é prazerosa. Mais na frente, em um outro nível após um tempo de prática, você provavelmente terá interesse em praticar outras atividades, diversificando a sua rotina física. Mas a dica é, repetindo, procurar iniciar fazendo algo que você ache divertido, seja o que for.