null Peça “Tarsila” será encenada pelo Grupo Mirante de Teatro Unifor

Peça “Tarsila” será encenada pelo Grupo Mirante de Teatro Unifor

Em cartaz em breve, espetáculo traz a história de uma das pintoras mais famosas do Brasil e dá vida aos seus afetos mais próximos 


Tarsila do Amaral não participou oficialmente da Semana de 1922, mas foi protagonista do movimento modernista no Brasil (Créditos: Ares Soares)
Tarsila do Amaral não participou oficialmente da Semana de 1922, mas foi protagonista do movimento modernista no Brasil (Créditos: Ares Soares)

No ano do centenário da Semana de Arte Moderna, que aconteceu no Theatro Municipal de São Paulo em fevereiro de 1922, a peça sobre a artista que é um dos grandes nomes do Modernismo volta ao palco na Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz. Encenada pelo Grupo Mirante de Teatro Unifor, "Tarsila" fica em cartaz de 13 a 15 de maio no Teatro Celina Queiroz. 

Conforme Decreto nº 34.722, de 30 de abril de 2022, do Governo do Estado do Ceará, é obrigatória a apresentação de Passaporte Sanitário (comprovante físico ou digital de esquema vacinal completo) e documento de identificação com foto para acesso ao Teatro.

A pintora Tarsila do Amaral é uma das integrantes do “Grupo dos Cinco”, conjunto de artistas fundamentais para a realização da Semana de 1922.  Apesar da forte presença da artista no movimento Modernista no Brasil e atuação para que o evento pudesse acontecer, Tarsila não esteve fisicamente presente no Theatro durante aqueles dias. Seu protagonismo, no entanto, não passou despercebido, e a criadora do Abaporu ficou eternizada na história brasileira. 

Entre os artistas que estiveram presentes na manifestação artístico-cultural de um século atrás, podem ser destacados Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, personalidades que completam o quinteto e que perpassam diversas áreas do mundo das artes, desde a pintura à literatura.

É para celebrar a vida da artista e comemorar os 100 anos da semana de 1922 que a peça Tarsila está de volta; mas, desta vez, por meio do talento e criatividade do Grupo Mirante de Teatro da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz. Com texto de Maria Adelaide Amaral, e direção de Hertenha Glauce, a peça homônima traz à tona intimidades, anseios e aflições da artista que ficou conhecida como a musa do modernismo brasileiro. 

Diante da plateia, Tarsila entra em cena, assim como Anita, Oswald e Mário, importantes personagens modernistas e seus grandes amigos. O espetáculo é uma viagem que atravessa as memórias da pintora modernista e de seus afetos mais próximos, revelando os rostos e personalidades para além de quadros e poesias. A peça coloca em evidência a relação entre essas personalidades, e como esse contato foi o fio condutor para esmiuçar acontecimentos importantes para a cultura do início do século XX.

Início de tudo

O espetáculo é encenado pelo Mirante desde 2016. Hertenha Glauce, coordenadora do grupo, conta que a ideia surgiu a partir de uma solicitação do então chanceler Airton Queiroz, diante da Exposição do acervo pessoal dele na época, em que figuravam várias obras modernistas. “De pronto e sem titubear,  aceitamos o convite/desafio e montamos em tempo recorde a peça.  Em dois meses estávamos com o espetáculo pronto para estreia! Uma grande produção! Cenário de época, réplica de quadros importantes e uma encenação ágil,  impactante e sensível”, pontua a diretora.

Para dar vida à protagonista e seus três grandes afetos, Hertenha explica que a escolha de atores aconteceu a partir de competência, mas também pela aparência física. Para confirmar que existiria uma boa semelhança entre intérprete e personagem, foi feita uma reconstituição fotográfica, na qual foram colocados lado a lado fotos do personagem e do ator correspondente.

 

Fotos dos atores e de seus respectivos personagens (Créditos: Hertenha Glauce) 

Desse processo, Annalies Borges e Ivan Lourinho foram os escolhidos para materializar a vida de Tarsila e Oswald, respectivamente. Borges, que faz parte do Grupo desde 2012, conta que, ao ser convidada para interpretar a criadora de quadros tão conhecidos do povo brasileiro, como “Operários” (1933) e “A Cuca” (1924), ficou em êxtase. A atriz, que tem Letras como primeira formação, sempre estudou a Semana de Arte Moderna, e lembra de ficar empolgada com as ações realizadas pelos artistas daquela época.

“Eu já tinha uma curiosidade e conhecia vagamente a vida de Tarsila, mas já tinha contato com sua obra, que me instigava. Aprofundei bastante com a pesquisa para a peça e me senti lisonjeada em saber que interpretaria essa personalidade tão forte de nossas artes plásticas”, afirma a intérprete. 
Para Lourinho, entrar em cena como Oswald de Andrade é algo muito mágico. O ator, que nunca teve a oportunidade de interpretar um personagem histórico, conta que não conhecia a história do poeta antes de subir aos palcos em sua pele. “A gente foi fazer toda uma pesquisa dos personagens, [...] e o próprio texto da Maria Adelaide Amaral é muito biográfico, fala muito da história da Tarsila e puxa todos essas personalidades que estão envolvidos com ela”, explica Ivan.

Conexão centenária

Desde a primeira apresentação da peça, o Grupo Mirante de Teatro já apresentou “Tarsila” em diversos lugares, como no Theatro José de Alencar e no Teatro São José, em Sobral (CE). “Sempre que fazemos, a emoção de reencontrar esses personagens e essas histórias, nos arrebata. É sempre um prazer. Além do mais, todo o grupo se sente orgulhoso dessa montagem e alguns integrantes, inclusive, trabalham na parte técnica, deixando ainda mais aconchegante esse processo”, afirma a diretora do espetáculo.

Esses quase seis anos foram o suficiente para criar uma conexão entre o grupo e a história, em especial entre os atores e seus respectivos personagens. Annalies, que já tinha uma ligação com as obras de Tarsila ainda quando estava no Ensino Médio, conta que criou um laço afetivo ao pesquisar sobre sua vida, ler biografias e ver entrevistas e fotografias da criadora do “Abaporu” (1928), chegando a sentir como se pudesse passar horas conversando com a pintora enquanto tomavam um café juntas. 

“Tarsila nasceu no mesmo dia e mês que meu pai, seu modo de vestir lembra um pouco o jeito de minha mãe quando era jovem e sua forma de enxergar a vida, com otimismo e entusiasmo, são motivadoras para quando enfrento obstáculos que, porventura, surjam no caminho”, aprofunda a atriz.

Ivan, por sua vez, conta não compartilhar de muitas semelhanças com Oswald, já que o comportamento do poeta era tido como “muito forte”, diferentemente do seu. Porém, em suas pesquisas, o ator pôde compreender a importância do escritor na vida de Tarsila, já que ele foi peça-chave para que a pintora fosse mais ousada em suas obras, bem como em sua vida. “Assim como Anita e Mário, Oswald e Tarsila ditaram para onde a cultura brasileira foi, e tanto a literatura quanto às artes plásticas estão muito ligadas à história desses personagens”, pontua Lourinho.  

Volta aos palcos

A última vez que Tarsila entrou em cena foi em 2019, pois a pandemia impossibilitou a realização do espetáculo durante dois anos. Porém, seu retorno aos palcos acontece da melhor maneira possível: em um período de celebração. Faltando menos de um mês para a (re)estreia, atores, equipe de produção e demais responsáveis pela montagem da peça compartilham um mesmo sentimento: o de euforia. 
“Tarsila será a primeira peça de palco do Grupo Mirante de Teatro Unifor desde de janeiro de 2020, onde aconteceu nossa última temporada com espetáculo infantil. Então, é um misto de alegria, euforia e de um certo estranhamento. Esse reencontro ainda está se desenhando mas, acima de tudo, está nos trazendo um enorme prazer, principalmente por se tratar de uma peça que amamos tanto fazer!”, ressalta Hertenha Glauce. 


Volta aos palcos acontece nos próximos dias 13, 14 e 15 de maio, no Teatro Celina Queiroz (Créditos: Ares Soares)

Borges, intérprete de Tarsila, conta que, na última vez que apresentaram a peça, quase como um pacto entre eles, os integrantes do Grupo já falavam em apresentá-la novamente em 2022, em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna. Quando a aprovação para a montagem veio, Annalies relembra que todos ficaram eufóricos. 

“Eu estou quase tão nervosa como na estreia da primeira temporada. E muito feliz por essa oportunidade de retornar aos palcos com essa personagem que tanto amo fazer e que me encanta sempre que a reencontro na cena. Espero que o público nos receba com esse mesmo carinho que estamos trazendo neste retorno de Tarsila, Oswald, Mário e Anita”, torce a atriz.

De início, em 2016, o espetáculo foi montado em tempo recorde. Agora, apesar de ser uma remontagem, os preparativos estão a mil. “[Nós estamos] voltando ao texto, voltando a ter contato com essa emoção, com esses personagens que são tão fortes. ‘Tarsila’ tem um ‘quê’ de drama, porque a vida dela não foi fácil, e também tem uma pitada de humor. O texto é maravilhoso e estamos agora nesse momento de reensaio, de produção e correr atrás para poder estar tudo pronto no dia 13 de maio”, assegura Ivan.

Muito além de um espetáculo

“Tarsila”, que, segundo Glauce, “traz em si a ideia de história, trajetória e um olhar sensível a todos esses artistas que, de uma forma corajosa e revolucionária, movimentaram as artes no Brasil”, é muito mais do que apenas uma peça. É uma homenagem. Além disso, é uma oportunidade para que novas gerações conheçam um período importantíssimo da cultura brasileira.

“Penso que peças como Tarsila nos fazem ver a vida por detrás da arte ali apresentada. Parece que nos aproximamos do contexto que também faz parte da motivação do processo criativo desses artistas. As relações entre eles, o que tiveram que enfrentar e transformar socialmente para serem compreendidos e aclamados, tudo isso nos chega, nos faz ser mais íntimos de suas obras e nos impulsiona a valorizar mais essa memória”, pontua Annelies.

Ivan Lourinho relembra que, ao montar o espetáculo, o Grupo viu o quanto a peça era forte e importante. “Quando a gente retrata isso, monta um espetáculo, coloca pra cena para que o público assista, é como se a gente estivesse ilustrando a importância desses personagens, desse movimento. [‘Tarsila’] é importante demais para que as pessoas, principalmente os jovens, conheçam um pouco mais essa história, e para que ela não morra, mas sim essa se perpetue, e a arte e o teatro tem muito disso”, finaliza o ator.

Exposição em cartaz

Para quem deseja conhecer mais sobre Tarsila do Amaral, o “Grupo dos Cinco” e o Modernismo em suas diversas nuances, a Fundação Edson Queiroz inaugurou, no dia 22 de março, uma mega exposição aberta ao público sobre os “100 anos da Semana de Arte Moderna em acervos do Ceará”, localizada no Espaço Cultural Unifor. Sob a curadoria de Regina Teixeira de Barros, a consultoria de Aracy Amaral, a mostra reúne peças de colecionadores particulares e públicos e deve ficar em cartaz até dezembro de 2022.

Serviço:

Tarsila, encenada pelo Grupo Mirante de Teatro Unifor
Data : 13, 14 e 15 de maio
Horário: sexta e sábado (às 20h) e domingo (às 19h)
Teatro Celina Queiroz
Ingresso: R$40,00 (inteira)/ R$ 20,00 (meia)
Ingressos à venda aqui

Conforme Decreto nº 34.722, de 30 de abril de 2022, do Governo do Estado do Ceará, é obrigatória a apresentação de Passaporte Sanitário (comprovante físico ou digital de esquema vacinal completo) e documento de identificação com foto para acesso ao Teatro.