Enem: 10 dicas para uma boa redação

Escrever um texto é uma tarefa que requer muita atenção. Diferente da fala, que é mais dinâmica e é organizada de forma coletiva (durante uma conversa, por exemplo, as pessoas debatem os assuntos que vão surgindo sem seguir necessariamente uma agenda), a escrita precisa ser cuidadosamente planejada.

A redação é um dos componentes essenciais para ter sucesso no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e conquistar a vaga no curso desejado. Exige-se um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre um tema de natureza social, científica, cultural ou política. Pensando nisso, selecionamos dez dicas para lhe ajudar nesse processo.

Estude os temas anteriores

Embora os temas não se repitam, eles também não se reduzem a uma única abordagem e podem aparecer sob outros enfoques. Em 2013, foi abordada a implantação da Lei Seca, uma questão de segurança pública, mas também de saúde. Em 2015, foi a vez da temática da violência contra a mulher (infelizmente, tema ainda atual), uma questão de segurança, saúde e educação. Em 2017, os desafios da acessibilidade do povo surdo, uma questão de educação aliada ao campo das políticas públicas.

Percebe como as grandes temáticas (Saúde, Segurança, Educação e afins) aparecem relacionadas? Que debates temos em curso atualmente nessas áreas? Informe-se e sempre busque fontes confiáveis – afinal, o tema de 2018 foi justamente a manipulação de dados e a questão das fake news!

Expanda seu repertório sociocultural

Repertório é todo o conjunto de experiências que você tem sobre um assunto. Isso envolve conhecimentos acumulados não apenas por meio da leitura (livros e jornais), mas também por outros objetos culturais (músicas, filmes, documentários, exposições, debates, etc.). Acompanhe os assuntos mais discutidos nos últimos anos.

Em tempos de pandemia, várias plataformas de streaming liberaram o acesso, e diversos locais físicos abriram possibilidades para visitações digitais (galerias, museus, exposições). Crie uma lista de assuntos e um cronograma para aproveitar essas oportunidades!

Defina o projeto de texto antes de começar a escrever

O planejamento é a parte inicial e deve orientar o direcionamento das informações e dos argumentos. O texto é dissertativo porque expõe um tema e é argumentativo porque fornece evidências para sustentar o ponto de vista colocado. É preciso que a organização do texto deixe clara as conexões entre as partes e o encadeamento lógico das ideias e dos argumentos, resultando num texto coerente.

Atenção ao tema e suas partes (evitar o tangenciamento e a fuga total ao tema)

E você achando que não utilizaria o conceito de tangente fora da Geometria, né? Pois bem, na Geometria, tangente é uma linha que toca a superfície em um único ponto. Assim, tangenciar um tema é não abordá-lo de forma adequada, com profundidade (tocando apenas a superfície), demonstrando pouco conhecimento do assunto (o repertório sociocultural) ou trabalhando apenas as questões mais amplas. Às vezes, o tema aparece no título (embora não seja obrigatório atribuir título ao seu texto) ou na apresentação, mas não é retomado e os argumentos apresentados pouco contribuem para sustentar o ponto de vista.

Fugir ao tema é escrever um texto que não se relaciona de forma alguma à temática apresentada, nem em um campo mais amplo (o que caracterizaria o tangenciamento).

Alinhe a tese e a intervenção

Pensando no projeto de texto, que é o planejamento realizado para construção, há quatro etapas importantes a serem cumpridas nessa ordem: tema → tese → argumentos → proposta de intervenção.

A tese é o ponto de vista a ser defendido e, por isso, está ligada ao tema. Essa defesa precisa se apoiar em argumentos trazidos do repertório sociocultural (os textos motivadores são apenas pontos de partida). A etapa final do texto é a proposta de intervenção, ou seja, a sugestão de uma iniciativa que atenda às necessidades apontadas e, assim, seja capaz de responder a problemática.

Respeite os direitos humanos

Além de signatário da Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948, o Brasil assegura os direitos inalienáveis à vida, à dignidade e à liberdade em diversos pontos da Constituição Federal. Os direitos humanos incluem pontos como o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre outros.

Em 2012, foram publicadas as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, que estipularam um conjunto de princípios norteadores: dignidade humana; igualdade de direitos; reconhecimento e valorização das diferenças e diversidades; laicidade do Estado; democracia na educação; transversalidade, vivência e globalidade; sustentabilidade socioambiental.

As propostas de intervenção devem considerar estes aspectos como orientação, buscando não apenas mantê-los como também promovê-los. Além do conteúdo da proposta, é importante listar quem serão os responsáveis pelo desenvolvimento da iniciativa, como será executada e os resultados/efeitos estimados. É o ponto alto da redação; tão importante que há uma competência exclusiva, a competência 5, que trata da análise e adequação da proposta.

Até 2017, desrespeitar os direitos humanos implicava zerar a nota da redação. A partir de uma decisão do Supremo Tribunal Federal daquele ano, o candidato não terá mais sua prova inteira descaracterizada, mas pode perder os pontos referentes à esta competência (200 pontos, 20% da nota total da redação).

Controle o tempo de prova

Além dos conhecimentos necessários para fazer uma boa prova, é preciso também ter uma estratégia para realizá-la. Assim, controlar o tempo é essencial para garantir que você consiga elaborar o projeto de texto, escrevê-lo, revisá-lo e então transcrevê-lo, na forma final, para a folha oficial, que será analisada pelos corretores. Isso tudo sem se esquecer das provas objetivas do primeiro dia – 45 questões de Linguagens, Códigos e suas tecnologias e 45 questões de Ciências Humanas e suas tecnologias.

No primeiro dia de prova, o participante dispõe de até 5h30. É preciso distribuir o tempo entre a redação e as demais provas, bem como o preenchimento do gabarito e a transposição do texto para a folha oficial. Lembre-se de separar tempo necessário para cada uma dessas etapas!

Escreva de forma legível

Os corretores não têm acesso à sua prova física. As correções são realizadas por meio de uma plataforma própria com base em uma imagem digital (o chamado espelho de prova).

É normal sentir algum nervosismo, principalmente no momento de transcrever o texto final para a folha oficial. Por isso, tome cuidado para que a grafia das palavras seja clara e legível. Se achar que sua letra cursiva pode causar alguma dúvida, use letra de forma, por exemplo. O importante é garantir que os corretores compreendam seu texto na íntegra!

Fique atento para não inserir erros para a folha definitiva

Conforme enfatizado nos tópicos anteriores, é importante controlar o tempo e garantir um formato legível para a sua redação. Outro erro comum ocorre justamente quando, pressionado pela falta de tempo, o participante insere erros (de pontuação ou de ordem dos termos da oração, por exemplo) durante a transcrição para a folha oficial. Embora não haja uma categoria específica para rasuras, elas poluem o texto final e podem interferir na compreensão do mesmo.

Pratique toda semana

Escrever, como todas as outras atividades, é uma técnica que só pode ser aprimorada por meio da prática. Se você tem acesso a algum espaço específico para essa prática (laboratório e/ou curso de redação), ótimo! Se não, há sites que propõem temas de redação e recebem textos de usuários para análise. O importante é a prática. É comum que os participantes que obtiveram a nota máxima compartilhem seus textos em redes sociais ou portais de notícias. Pesquise, estude e analise como esses textos foram organizados, respeitando cada uma das cinco competências.

Esperamos que essas dicas lhe ajudem a realizar seus objetivos e desejamos que você tenha sucesso nas suas escolhas!

*Robson Ramos é linguista, professor de Língua Portuguesa e de Escrita Acadêmica, do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão, da Universidade de Fortaleza.

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