Entenda os desafios e conquistas da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho

No contexto relativo a gênero e sexualidade, os membros da comunidade LGBTQIA+ fazem parte de um movimento político e social que defende o respeito à vida de pessoas que se identificam com cada letra da sigla em sua pluralidade de orientações sexuais e de gênero. Como um dos grupos historicamente marginalizados, essa parcela da sociedade traz à tona o debate sobre inclusão e diversidade, discutindo tanto a necessidade de representatividade quanto a da igualdade de direitos.

A busca por mais e melhores oportunidades, principalmente no mercado de trabalho, é um dos principais pontos na luta igualitária dessa população, que chega a contabilizar cerca de 2,9 milhões de pessoas no País, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Muitas vezes encarando “portas fechadas” devido ao preconceito, esse público tenta encontrar chance, visibilidade e reconhecimento nos espaços profissionais.

Direito versus preconceito

Para Noália Magna de Araújo, professora da Universidade de Fortaleza e supervisora de Estágio em Processo de Gestão e Saúde do Trabalhador, são frequentes os entraves no mundo corporativo em torno da contratação de LGBTQIA+ – em especial, travestis e transgêneros –, provocando uma baixa inserção dessa população no mercado de trabalho formal. “Isso fere diretamente os princípios dos direitos humanos e da não-discriminação”, enfatiza.

Segundo a Constituição Federal de 1988, toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Esse direito permite aos cidadãos satisfazerem suas necessidades mais básicas, como moradia, saúde, alimentação, educação, entre outras. Dificultar o acesso de um grupo específico ao trabalho contribui para a precarização da qualidade de vida, comprometendo a saúde física, mental e social dessas pessoas.

Ana Maria D’Ávila, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Direito das Minorias e das Pessoas em Situação de Vulnerabilidade da Unifor, ressalta que, além de um meio para prover o sustento próprio e da família, o trabalho é a forma como pessoas adultas se inserem na vida social. Para ela, limitar ou negar trabalho a uma pessoa LGBTQIA+ não apenas a vulnerabiliza economicamente, mas socialmente.


(Foto: Alex Campêlo/Márcia Travessoni)

“Excluí-la [pessoa LGBTQIA+] do convívio com outros adultos é impedi-la do desenvolvimento pleno da sua personalidade, contrariando norma constitucional que estabelece expressamente a dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de Direito (artigo 1º, III)” – Ana Maria D’Ávila, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Direito das Minorias e das Pessoas em Situação de Vulnerabilidade.

Mudanças de cenário

Se, por um lado, ambientes discriminatórios e excludentes ainda resistem em organizações que ainda não se atentaram para a importância dessas questões, por outro, cada vez mais empresas necessitam de e adotam iniciativas que promovam a diversidade e inclusão no ambiente de trabalho.

“Hoje sabemos de empresas líderes no mercado que estão demonstrando apoio à inclusão de pessoas LGBTQIA+. Os efeitos têm sido muito positivos nos processos seletivos, bem como percebemos melhorias efetivas na cultura de colaboração, empatia, produtividade, marketing institucional e inovação” – Noália Magna de Araújo, professora e supervisora de Estágio em Processo de Gestão e Saúde do Trabalhador.

Essa mudança de cenário tem sido produto do próprio movimento LGBTQIA+, segundo D’Ávila. Ela observa que desde finais do século passado, esse grupo vem se organizando para que seus membros sejam reconhecidos como titulares plenos de direitos humanos. “As justas reivindicações desse movimento não têm sido acolhidas pelo Poder Legislativo, mas pelo Poder Judiciário que, no Brasil, tem assumido o protagonismo no que se refere à proteção dos direitos das minorias e das pessoas em situação de vulnerabilidade”, observa.

No mundo empresarial, já existem iniciativas direcionadas a contribuir para a reversão do quadro de discriminação contra as pessoas LGBTQIA+, como a implementação de políticas de promoção das pessoas desse grupo a cargos de gestão, garantido representatividade nas altas esferas das organizações.

“Esse tipo de medida ajuda a evidenciar mais claramente que a sociedade não é homogênea, mas ricamente diversa e, o mais importante, ajuda a evidenciar que a competência profissional não depende da orientação sexual nem da identidade de gênero”, destaca a professora Ana Maria.

Atuação da Universidade

Na Unifor, da Fundação Edson Queiroz, o tema também é debatido com os estudantes. Atualmente, a Universidade está promovendo o projeto Rodas de Conversa sobre Inclusão e Diversidade no Mercado de Trabalho. O objetivo da ação, que acontece durante o mês de novembro, é estimular o debate acerca das oportunidades e dos obstáculos da jornada profissional a partir de questões que envolvem a população LGBTQIA+. 

Iniciativas afirmativas como essa revelam o alinhamento da instituição com necessidades atuais e urgentes dos estudantes e do mercado, além de contribuírem com o desenvolvimento da consciência sobre direitos de grupos populacionais excluídos e de pessoas que se identificam em alguma esfera com a comunidade LGBTQIA+. “A Universidade é lugar propício para discutir sobre essa temática e promover um espaço de fala”, avalia a docente Ana Maria D’Ávila.

Proporcionar visibilidade a grupos historicamente excluídos da sociedade é uma demanda do mercado atual e de consumidores cada vez mais conscientes. Estes não buscam empresas apenas pelos serviços ou produtos, mas pelos posicionamentos das organizações em relação a diversos temas.

D’Ávila ressalta que não pertencer ao modelo artificialmente construído pela sociedade preconceituosa do ser humano padrão – homem, branco, heterossexual, cristão, proprietário de bens e sem deficiência física nem mental – não tem nada de errado.

“Ser diferente não significa ser melhor nem pior do que ninguém. Apenas confirma nossa própria humanidade, pois não há dois seres humanos iguais. É nessa diferença que radica a dignidade humana, que nada mais é que o reconhecimento do valor incomparável e insubstituível de cada ser humano” – Ana Maria D’Ávila, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Direito das Minorias e das Pessoas em Situação de Vulnerabilidade.

Serviço

Projeto Rodas de Conversa sobre Inclusão e Diversidade no Mercado de Trabalho
Datas: 10, 17 e 24 de novembro
Horários e locais: Turma 1, das 13h30 às 15h - sala B05 | Turma 2, das 9h30 às 11h - sala B03
Mais informações: Central de Carreiras e Egressos - (85) 34773142 ou estagio@unifor.br