Por trás dos holofotes: desafios e experiências do jornalismo esportivo

O jornalismo é uma ciência que contempla os mais variados segmentos da sociedade, possibilitando uma vasta área de atuação a seus profissionais. Jornalistas, nos respectivos formatos e veículos, podem realizar um trabalho voltado a campos sociais específicos. Dentre eles, está o jornalismo esportivo, que é a produção jornalística voltada aos esportes. 

De acordo com o pesquisador e jornalista Edouard Seidler, o jornalismo esportivo teve seus primeiros registros no mundo em 1854, com a criação do Le Sport, na França. O veículo publicava crônicas sobre atividades esportivas da época.

Já no Brasil, o nascer desse segmento se deu por publicações em jornais locais de São Paulo na década de 1910. Ao decorrer do tempo, foi ganhando mais espaços na mídia e passou a ter canais especializados nas diversas plataformas de comunicação. Hoje esse segmento se tornou um dos mais cobiçados, tanto por jornalistas quanto pelo público consumidor – principalmente no País, onde o futebol é considerado uma paixão nacional.

Os profissionais que trabalham com o jornalismo esportivo são pautados na cobertura de tudo que engloba os esportes, como instituições, políticas públicas, clubes e, principalmente, competições e eventos. 

É possível acompanhar esse tipo de cobertura, por exemplo, na Copa do Mundo 2022, que está sendo realizada no Catar. São milhares de veículos envolvidos na competição, levando informações para o mundo inteiro. Estão presentes repórteres vinculados a emissoras de televisão, jornais impressos, rádios e portais de internet. Muitos correspondentes, inclusive, realizam trabalho autônomo para blogs, podcasts e redes sociais.

Wagner Borges, coordenador do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, destaca que as coberturas esportivas estão se profissionalizando cada vez mais. Segundo ele, esse fenômeno acontece porque o esporte é um forte segmento de mercado que envolve grandes negócios. “Mesmo com esse cenário, o jornalista não pode perder seu critério objetivo, de investigador, frente aos grandes interesses de quem tem o poder econômico”, avalia.

“O jornalismo esportivo, visto como parte do jornalismo, tem uma grande relevância social, pois é um marco civilizatório. Ele, assim como outros segmentos, tem o papel de, para além de informar, oferecer cenários para que haja uma reflexão sobre aquilo que está sendo coberto” – Wagner Borges, coordenador do curso de Jornalismo da Unifor.

Mesmo com essa realidade de alta no mercado, os jornalistas esportivos enfrentam um grande desafio: a busca perene pela imparcialidade. O esporte move paixões, e jornalistas, assim como o público geral, têm preferências por times e atletas. Isso, muitas vezes, pode ocasionar certos problemas aos profissionais, sendo possível chegar a sofrer uma perda de credibilidade em razão de algum “deslize”. Por isso, é redobrada a cobrança por um trabalho justo com opiniões equilibradas.

Para Wagner, os jornalistas que almejam atuar na área devem enxergar o esporte como uma pauta, uma prestação de serviço, deixando qualquer gosto pessoal de lado. O docente também reforça a importância de um jornalismo esportivo especializado e inclusivo, visto o monopólio que o futebol conquistou na grande mídia.

“É importante entender que a cobertura esportiva deve dar a mesma relevância de uma partida de futebol a um torneio de xadrez, que revela grandes talentos. Os jornalistas devem se desprender dos preconceitos e adotar a inclusão aos demais esportes, em todas as categorias. O curso de Jornalismo da Unifor trabalha neste sentido”, conclui.

Realização de um sonho



Raisa Martins, egressa do curso de Jornalismo da Unifor (Foto: Arquivo pessoal)

Raisa Martins é egressa do curso de Jornalismo da Unifor. Decidiu entrar na graduação em 2018 por consumir muitos conteúdos jornalísticos desde criança, principalmente os voltados ao esporte. Por isso, sempre teve em mente que gostaria de trabalhar com o jornalismo esportivo.

“Desde o meu primeiro semestre, tinha a certeza que queria atuar na área esportiva. Gostava de acompanhar e me inspirava em mulheres que ocupavam esse espaço, como, na época, a Fernanda Gentil”, afirma.

Durante a trajetória acadêmica, Raisa teve a oportunidade de realizar estágio na TV Unifor, onde adquiriu a primeira experiência profissional. Foi repórter, produtora e apresentadora do programa de esportes. Posteriormente, estagiou no Sistema Verdes Mares (SVM), tanto na Rádio Verdinha e quanto no site do Globo Esporte.

Depois de se graduar em 2020, a jornalista trabalhou com marketing esportivo e deu continuidade a um projeto que foi o seu trabalho de conclusão de curso, o Podcast Fora o Baile – programa de enaltecimento da trajetória feminina no esporte.



Raisa na última partida do Brasileirão 2022 - Série A, onde participou da transmissão do jogo Ceará x Juventude (Foto: Arquivo pessoal)

Raisa retornou ao SVM e, desde junho, integra a equipe do Globo Esporte. Hoje realiza um trabalho de reportagem esportiva, cobrindo o cotidiano dos clubes e jogos dos campeonatos regionais e nacionais. “É uma atuação do dia a dia, quase uma rotina de atleta. Além dos treinos, tem jogos no sábado, na quarta, na quinta… é um em cima do outro. Tem viagem, estudos para as transmissões e muito mais. É uma imersão, quase 24 horas por dia de futebol”, declara.

Além de uma rotina puxada, ela também enfrenta a dura realidade de atuar em um meio predominantemente ocupado por homens. Segundo ela, “a sensação é de se sentir sozinha e tendo que se provar a todo momento”. A jornalista relata que é uma luta diária superar a desconfiança do trabalho, os assédios e as piadas de “mau gosto”. Os avanços das mulheres no meio esportivo ainda são muito pequenos e a luta por respeito e ocupação de espaços se intensifica. 

Mesmo nesse cenário, a egressa não esconde a alegria de poder atuar no segmento jornalístico que sempre almejou: “Trabalhar com o esporte é o meu sonho, e eu realizo esse sonho todos os dias”, pontua. Ela ressalta a importância da Unifor como mediadora desse processo.

“Vivi muitas experiências na universidade, desde as disciplinas, principalmente com as atividades práticas, até o meu estágio na TV Unifor. Essa vivência foi muito enriquecedora e me preparou para as coisas que eu encontrei no mercado” – Raísa Martins, jornalista esportiva egressa da Unifor.