Profissões do futuro pós-pandemia: cineastas e o mercado das plataformas digitais

O consumo de produções audiovisuais em plataformas de streaming teve notável aumento no ano de 2020. Com o isolamento social causado pela pandemia de Covid-19, as tradicionais salas de cinema se tornaram ambientes inviáveis para os amantes da sétima arte, direcionando o consumo de conteúdo audiovisual para dispositivos móveis, computadores ou a boa e velha TV.

Como o fluxo de consumo mudou, a tendência é que a produção também mude e se adapte às novas realidades. Um exemplo prático disso é a minissérie “Amor e Sorte”, da Rede Globo, que foi gravada remotamente, e conta com atrizes de peso como Fernanda Montenegro e Fernanda Torres.

Para Bete Jaguaribe, coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, o aumento da produção de conteúdo para as plataformas de streaming é uma tendência da experiência social contemporânea. “Nós já temos filmes e séries brasileiras realizadas especialmente para os serviços de streaming. São novos modelos de negócios do mercado audiovisual, num movimento de transformação tecnológica permanente”, comenta.

Segundo a estudiosa, apesar das mudanças na forma de se produzir cinema, o papel do cineasta não muda. “No streaming ou na sala física, o importante é realizamos filmes de qualidade, que falem das nossas histórias, que contribuam para a reflexão sobre o mundo”, declara.

De acordo com a professora, o cineasta trabalha com a imagem, com a construção de narrativas imagéticas, que constitui hoje a esfera de mediação social mais importante do mundo. “Essa condição contemporânea exige do cineasta uma atitude mais crítica da realidade, no sentido de contribuir com uma existência humana mais generosa, especialmente no que se refere à implementação de uma cultura de respeito à diversidade e à sustentabilidade ambiental”, explica.

Perspectivas para um cinema pós-pandemia

A indústria do Cinema e Audiovisual teve diminuição no consumo de obras nas salas de físicas de cinema, mas será que a tendência é a continuidade do consumo pelas plataformas de streaming?

Para Valdo Siqueira, docente do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor, o futuro pós-pandemia tende a apresentar mais produções documentárias do que ficcionais. “Calcula-se que o documentário continue a plenos pulmões. Muito mais documentários são feitos sobre este tema. Talvez, devido a este fato, devemos ver, no pós-pandemia, mais documentários prontos do que ficção”, explana.

Para o estudioso, existem diferenças na forma de recepção do conteúdo em diversos aspectos, mas o consumo das imagens se mostra necessário independente do meio. “O contexto de pandemia só fez aumentar a necessidade de imagens. A potência delas em nossas vidas nesse momento é tamanha, que arrisco dizer ser difícil de sobreviver sem elas”, destaca.

“Quando perguntamos às pessoas como elas estão, o que estão fazendo nesse tempo, raramente ouvimos uma resposta que exclua o visionamento de filmes e conteúdos informativos através de imagens”, enfatiza o professor.

O Cinema no isolamento social

Quando um só ambiente se torna o local de trabalho e lazer, diversas pessoas tiveram de encontrar novas formas de entretenimento e trabalho dentro das paredes da própria casa. A recém-formada aluna do curso de Cinema e Audiovisual, Emilly Guilherme, produziu, durante o período de isolamento social, o filme “Rotina familiar - Crônica visual”.

Com direção de Léo Silva, todo o processo criativo foi feito de forma remota durante a quarentena. A obra foi selecionada pelo Edital Cultura Dendicasa: Arte de Casa para o Mundo, iniciativa da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) que visa fomentar a produção artística durante o período de isolamento social no Ceará. As produções selecionadas por meio de edital são distribuídas gratuitamente de forma online no Portal Cultura Dendicasa.

O filme também foi selecionado para o festival online Mov.Cidade Lab, mostra de criatividade e sustentabilidade de Vitória (ES), sendo o único filme cearense a ser selecionado para reprodução no festival.

A produção foi a primeira de Emilly de forma totalmente remota. Ela e o diretor, Léo Silva, se encontraram apenas de forma virtual durante todo o processo criativo. Para a realizadora audiovisual, a experiência modificou alguns conceitos pessoais. “Eu arranjei outras formas de estar presente. Comecei a ampliar as minhas ideias de presença e de produção cultural, de produção executiva, comecei a me adaptar, porque a produção executiva e cultural também necessita muita adaptação ao que está acontecendo hoje em dia”, comenta.

A produtora revela que enxerga no futuro uma maior produção audiovisual para a internet devido às novas maneiras de consumir cinema. “Cada vez que muda como o cinema é consumido, molda como ele é feito”, conclui.

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