Sustentabilidade é parte inovadora na formação dos alunos de Moda

A indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo, segundo levantamento divulgado pela Global Fashion Agenda, organização sem fins lucrativos que promove a colaboração da indústria em sustentabilidade na moda. Conforme o levantamento, 92 milhões de toneladas de têxteis foram descartados nos últimos anos. E as projeções são assustadoras: é previsto um aumento de 60%, ou seja, mais de 140 milhões de toneladas nos próximos oito anos.

Os danos ocasionados pelo terceiro maior setor industrial do mundo tem impulsionado ações mais sustentáveis ainda na formação de novos profissionais da área. Um exemplo dessas dinâmicas é o trabalho realizado pelo corpo docente dos cursos de Moda (tecnológico e bacharelado) da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz.

Conforme explica a professora Fabíola Mourão, tais consequências negativas causadas por essa indústria impulsionam especialistas do mundo fashion a serem mais coerentes e a reconhecerem aspectos transgressores, reflexivos e expressivos que a moda aponta na atualidade.

“Esses sinais nos alertam para uma reflexão que culmine na mudança de hábitos de consumo, adotando práticas mais sustentáveis, como uma produção ‘slow fashion’, que tem como meta um processo mais enxuto, com remuneração justa e com peças duráveis”, pontua a docente.


“Ressignificar uma peça é dar a ela uma vida útil mais durável com design e vestibilidade, por isso o uso de técnicas como upcycling, patchwork, entre outras, se fazem tão importantes na vida acadêmica” – Fabíola Mourão, docente dos cursos de Moda da Universidade de Fortaleza.

Viés sustentável  

Propiciar estes conhecimentos, segundo Fabíola, leva o discente a uma análise sobre o consumo desenfreado e suas consequências no planeta. Ela ainda ensina técnicas que permitam ressignificar peças em desuso ou que iriam para descarte. Considerando a importância do reuso e da reciclagem dos tecidos, há vários projetos na Unifor que são realizados nos cursos de Moda visando a sustentabilidade.

Na disciplina de Modelagem Plana Feminina, por exemplo, os estudantes recebem tecidos de doação ou que sobram de trabalhos anteriores e desenvolvem vestidos em moulage reduzida. “Neste semestre o tema escolhido foi ‘Era Elisabetana I e II’. Os alunos desenvolveram a modelagem e muitos também realizaram a montagem da peça. O que foi bem desafiador para mim, mas muito gratificante também”, revela.


Alunos do segundo semestre desenvolveram uma coleção no tema “Era Elisabetana I e II”, com tecidos de doação ou que sobraram de trabalhos anteriores (Foto: Arquivo pessoal).

Outro projeto da disciplina de Ateliê II foi realizado por graduandos do quarto semestre, que tiveram como tema “Alice no país das maravilhas hoje”. Cada um dos seis grupos de discentes ficaram responsáveis por criar um look baseado em um personagem do conto infantil utilizando duas técnicas distintas: o upcycling e patchwork. A peça deveria vestir alguém do grupo, ser fotografada e montada em um editorial.

Fazendo o “bem” com a moda

Em 2018, a coordenação dos cursos de Moda da Unifor iniciou uma campanha de montagem e entrega de estojos escolares – que continham lápis, borracha e canetinhas – na Escola Yolanda Queiroz. “Em 2021, trocamos o mote por vestidos de 6 e 8 anos, shorts infantis de 4 a 10 anos e scrunchie [elástico] de cabelo. O projeto ganhou o nome de ‘Faça o bem sem olhar a quem’ ”, explica Fabíola. 

A disciplina que realiza o desenvolvimento das peças é a de Ateliê de Confecção I e II,  ministrada pelos professores Fabíola Mourão e Ricardo Bessa. Todas as peças são desenvolvidas no laboratório N-18 e doadas no final do semestre. “Esses projetos só são viáveis devido ao comprometimento de todos os alunos, professores e [equipe] técnica”, diz a docente. 

De acordo com a diretora da Escola Yolanda Queiroz (EYQ), Mônica Galeão, a doação de roupas aos pequenos estudantes da EYQ impacta diretamente em suas vidas e nas de familiares beneficiados. Ela indica que isso é um diferencial que a Escola possui, a de ser acolhida pela graduação da Unifor em seus projetos.

“Esses benefícios, inclusive, refletem nas famílias, uma vez que as roupas são para crianças, de modo geral, mas as famílias economizam mais e fazem mais compras. Os cursos ainda reaproveitam o material e beneficiam as crianças na confecção de roupas e nos modelos. É uma ação que visa o bem-estar das nossas crianças”, revela Mônica.

Glossário 

  • Slow Fashion (“moda lenta”, em português) visa valorizar cada etapa do processo de produção, desde os insumos até a venda, e oferecer produtos mais duráveis, confeccionados por meio de processos sustentáveis e ecologicamente corretos.
     
  • Fast Fashion (“moda rápida”, em português) é um sistema de produção em massa que prioriza volume de quantidade e custos menores com mão de obra e matéria-prima.
     
  • Upcycling (“reutilização”, em português) é um processo de criação de novos itens a partir de materiais já existentes. Seu custo é baixo, consome pouca energia e dispensa o uso de componentes químicos.
     
  • Patchwork é uma técnica que usa retalhos e remendos para criar peças novas.