Descoberta da vacina BCG completa 100 anos; entenda sua importância

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, mais conhecida como "bacilo de Koch", em homenagem ao médico alemão Robert Koch, responsável pelo seu descobrimento ainda no século 19.

A doença, que afeta principalmente os pulmões, é transmitida pelo ar, por meio da inalação de aerossóis (partículas menores que gotículas) e gotículas provenientes das vias áreas da pessoa infectada, que podem ser eliminadas durante a fala, espirro ou tosse.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a tuberculose é uma das doenças infecciosas mais letais do mundo. Até o início do século 20, a comunidade médica e científica não sabia ao certo como tratá-la e o que fazer para preveni-la. Porém, na década de 1920, com o surgimento da vacina BCG, tudo mudou.


O médico e cientista Robert Koch, um dos precursores da moderna bacteriologia, dedicou-se a pesquisas sobre as relações entre agentes bacterianos e a transmissão de doenças, e a relação entre higiene e epidemias.

A descoberta

Em 1º de julho de 1921, o médico Albert Calmette (1863-1933) e o médico veterinário Camille Guérin (1872-1961), após 13 anos e mais de 230 tentativas, obtiveram à fórmula final do imunizante que seria o responsável por conter a tuberculose.

A vacina desenvolvida pelos cientistas franceses, que na época trabalhavam no Instituto Pasteur, na França, é feita a partir do enfraquecimento da bactéria causadora da tuberculose em bois e vacas (a Mycobacterium bovis), e recebeu o nome de BCG, sigla para Bacilo de Calmette e Guérin, em alusão aos sobrenomes de seus criadores.


A Vacina BCG (Bacilo Calmet.te-Guérin) foi desenvolvida na França, por León Charles Albert Calmette (médico e bacteriologista) - na foto à esquerda - e Jean-Marie Camille Guérin (veterinário e microbiólogo) 

No Brasil

A vacina BCG chegou ao Brasil em 1925, após seus criadores decidirem distribuí-la para outros institutos de pesquisa ao redor do mundo. O responsável por trazer, para a América Latina, as culturas de bactérias utilizadas na fabricação do imunizante, foi um cientista uruguaio chamado Julio Elvio Moreau, que trabalhava na mesma instituição que Albert e Camille.

Após desembarcar no Brasil, Moreau entregou o material ao médico Arlindo de Assis (1896-1966), cientista do Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro. Em suas pesquisas, Arlindo recebeu auxílio da Liga Brasileira contra a Tuberculose, criada em 1900. Mais tarde, essa liga se transformou na Fundação Ataulpho de Paiva, que se tornou referência na fabricação da vacina no país.

Em 1927, a BCG foi aplicada pela primeira vez no Brasil. Nas décadas seguintes, por não existir um sistema nacional de vacinação no país, a aplicação da vacina contra a tuberculose era irregular, e dependia muito de cada Estado e de seus centros locais de vacinação. Porém, com a criação do Programa Nacional de Imunização (PNI) nos anos 1970, a BCG se tornou obrigatória para os recém-nascidos, e passou a ser ofertada para todas as crianças brasileiras até os quatro anos de idade.

Aplicação e funcionamento

Segundo Samira de Alencar, professora do curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, a vacina contra a tuberculose estimula o sistema imunológico a criar anticorpos contra a enfermidade, já que, ao ser aplicada, ela injeta no organismo do indivíduo uma versão extremamente enfraquecida da bactéria causadora da doença.

"Vale salientar que [a BCG] é uma vacina que protege contra as formas mais graves de tuberculose, como a meningite tuberculosa e a tuberculose miliar", informa a docente. Assim, o imunizante não impede o indivíduo de ser infectado pela doença, mas serve para que ela não se agrave.

A vacina é ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), serviço de saúde pública brasileiro, e está inserida no calendário básico de vacinação. Ela é aplicada em dose única, e, na maioria dos casos, logo após o nascimento, quando a criança ainda está na maternidade. Um fato curioso é que, a princípio, a BCG era administrada via oral, e, a partir da década de 1970, a versão injetável foi adotada.

De acordo com a professora, que também é enfermeira, caso a criança não consiga tomar ainda na maternidade, os pais ou responsáveis podem procurar um serviço de saúde para garantir a aplicação. "Lembrando que ela é ofertada até menores de 5 anos, mas o ideal é que sua aplicação ocorra o mais cedo possível", aconselha.

Sobre a marquinha que fica no braço direito, Samira explica que a cicatriz é uma característica do efeito da vacina no corpo humano, e que é uma reação normal e esperada.

Conquistas e importância

Segundo a enfermeira, a vacina BCG possui um papel importante na saúde pública mundial, e foi rapidamente reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por órgãos de saúde nacionais e internacionais.

"A tuberculose era uma doença que acometia a população, além de ocasionar diversos óbitos, principalmente em pessoas com sistema imunológico comprometido. [A doença] possui uma facilidade na transmissão, então, a vacina era uma estratégia a ser buscada pelos cientistas. Sua descoberta proporcionou uma alteração na realidade de diversos países que possuíam a tuberculose como uma situação endêmica",

Samira Alencar, enfermeira e professora do curso de Enfermagem da Unifor.


O imunizante está categorizado na Lista de Medicamentos Essenciais da OMS como um dos mais seguros eficientes do mundo, e também consta na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) do Brasil, recurso utilizado pelo SUS e que abrange um elenco de medidas e produtos fundamentais para o controle das principais patologias presentes no país.