Dismorfia corporal: Psicopatologia afeta maneira que pessoas enxergam o próprio corpo

O Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) pode gerar angústia e intenso sofrimento psíquico

Na sociedade onde padrões estéticos são praticamente inalcançáveis, a insatisfação com o próprio corpo muitas vezes deixa de ser exceção para tornar-se regra. Perder quilos, modelar a silhueta, trabalhar os músculos, entre outras formas de mudar a imagem de si mesmo, passam a ser autocobranças diárias.

Esses altos níveis de exigência com a própria aparência podem ser o caminho para o desenvolvimento de problemas psicológicos, como acontece com pessoas acometidas pelo Transtorno Dismórfico Corporal (TDC).

Segundo Marília Barreira, doutora em Psicologia e professora do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, o TDC é um transtorno psicopatológico que se caracteriza por uma percepção do corpo em desconformidade com a realidade.

Ela diz que pessoas com o problema podem, por exemplo, se perceber mais gordas, mais magras, menos musculosas, mais altas, mais baixas. Podem ainda entender que os olhos não são tão alinhados, que o nariz é torto ou maior do que o normal, entre outras percepções distorcidas.

Causas e sintomas

De acordo com a professora Marília, a causa do TDC, assim como de vários outros transtornos psicopatológicos, pode estar relacionada a questões de ordem neuronal. No entanto, ambiente, pressão estética, contexto de socialização e cultura também podem influenciar o desenvolvimento da condição.

A docente explica que o descontentamento com a aparência é algo bastante comum, porém, quem possui TDC tem um pensamento muito concreto de que o corpo não é da forma como de fato é. Isso envolve, inclusive, nojo e repulsa com relação a uma determinada parte corporal, o que gera enorme sofrimento.



O Transtorno Dismórfico Corporal leva o paciente a profunda angústia e sofrimento (Foto: Getty Images)


“Há uma crença muito persistente de que essa parte do corpo é de uma determinada forma, não importando o que os outros digam [...] É uma crença irreal”, destaca a psicóloga.

Diagnóstico

O diagnóstico para o transtorno é clínico e pode ser feito por psicólogos ou psiquiatras. Geralmente acontece dentro do processo psicoterapêutico ou em momentos durante um processo maior de uma avaliação psicológica, quando é possível verificar persistência, nível de sofrimento e angústia, além da crença muito fixada de que o corpo é de uma forma diferente da realidade.

“São elementos que vão nos possibilitar uma hipótese. Então quanto mais fechados, quanto mais rígidos esses sintomas forem, mais fácil é ter essa hipótese do transtorno de dismorfia corporal”, acrescenta a professora Marília.



No TDC, a visão distorcida do próprio corpo pode levar a procedimentos estéticos desnecessários (Foto: Getty Images)


Tratamento

Via de regra o tratamento para o TDC é a psicoterapia, mas — a depender do nível de comorbidade — também pode ser indicado o acompanhamento do paciente por um psiquiatra. Outro fator determinante para a definição do tratamento tem a ver com o tipo de percepção que a pessoa tem do próprio corpo.

“Se eu falo de alguém que é bastante magro, mas não se vê assim ou de alguém que se enxerga muito fraquinho, porém é mais musculoso, é possível ter também uma equipe interdisciplinar, com endócrino, nutricionista e profissional de educação física”, sugere Marília.

Influência da mídia

Na visão da docente, a constante reprodução de padrões de beleza pela mídia e redes sociais pode representar boa parte da discussão em torno do transtorno dismórfico corporal. Desde cedo, as pessoas vivem essa pressão estética, fazendo com que o TDC se desenvolva já na infância e adolescência, principalmente durante a puberdade, quando ocorrem muitas mudanças corporais.



“Apesar de hoje as pessoas terem mais esclarecimento, vemos, muitas vezes, até pais e mães colocando crianças – principalmente meninas, porque a pressão estética chega para elas de forma diferente – super para baixo por causa do corpo”Marília Barreira, doutora em Psicologia e professora da Unifor

 


Conforme explica Marília, a cultura da cirurgia plástica, o uso de filtros nas fotos das redes sociais e os exemplos que vêm da internet revelam que a estética é um dos principais componentes da sociedade atual, o que pode influenciar a constituição psíquica, principalmente de jovens. 

“Estamos o tempo todo na internet, na mídia, no Instagram, reproduzindo padrões que são extremamente irreais [...] Saúde mental é também falar sobre cuidados com o corpo, mas precisamos compreender o quanto os padrões da mídia podem ser danosos”, alerta a especialista.