Doença de Crohn: Entenda a condição inflamatória crônica que impacta o sistema digestivo

Pessoas diagnosticadas enfrentam complexidades na saúde intestinal, marcada por inflamações que influenciam significativamente o bem-estar

Nas últimas semanas, as mídias repercutiram o termo Doença de Crohn, distúrbio do trato gastrointestinal que impacta a vida de diversas pessoas. Isso se deu especialmente em razão do jornalista Evaristo Costa, conhecido por ter sido o âncora do Jornal Hoje (TV Globo), que compartilhou sua experiência enfrentando uma crise dessa condição. 

No relato divulgado nas redes sociais, ele detalha que a descoberta da doença ocorreu quando buscou ajuda médica há quatro anos, diante de uma notável deterioração em sua qualidade de vida. Evaristo descreveu episódios em que teve dificuldade em dormir, necessitando fazê-lo sentado, enfrentou mais de 30 idas ao banheiro diariamente e experimentou perda significativa de energia.

Esses sintomas, que incluem debilitação geral, exemplificam alguns dos desafios enfrentados por indivíduos afetados pela Doença de Crohn, evidenciando a complexidade dessa condição gastrointestinal.

Afinal, o que é a Doença de Crohn?

A Doença de Crohn recebeu esse nome em homenagem ao médico que a descreveu pela primeira vez em detalhes, Burrill Crohn. Em 1932, o médico publicou certo estudo sobre uma série de casos de uma condição que envolve inflamação no trato gastrointestinal.



A Doença de Crohn pode provocar dores e desconfortos ligados ao trato gastrointestinal, além de afetar a qualidade de vida dos pacientes (Foto: Getty Images)


O quadro clínico é de uma condição inflamatória crônica que afeta o sistema digestivo. Diferentemente de outras condições gastrointestinais, como a síndrome do intestino irritável, a Doença de Crohn é caracterizada por inflamações profundas que podem ocorrer em qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus. A complexidade da condição torna seu diagnóstico e manejo um desafio, exigindo abordagem holística.

Essa enfermidade pertence ao grupo de distúrbios conhecidos como Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) e sua origem específica permanece sem literatura comprovada. A natureza crônica da condição significa que os períodos de atividade da doença, conhecidos como surtos, podem ser intercalados por fases de remissão, durante as quais os sintomas diminuem.

Quais são os sintomas?

Os sintomas apresentados por Evaristo, como fortes dores abdominais, febre, perda de peso e diarreia, são indicativos comuns da Doença de Crohn. Esses sinais podem variar em intensidade e duração, afetando significativamente a qualidade de vida do paciente. A identificação precoce desses sintomas é crucial para um diagnóstico preciso e início de tratamento adequado.

De acordo com a gastropediatra Hildenia Baltasar, professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza — instituição ligada à Fundação Edson Queiroz —, a maneira como a doença se manifesta pode mudar dependendo da parte do trato digestivo afetada.

A intensidade e a gravidade também têm papel importante em como os sintomas se manifestam. Os sintomas mais comuns são:

  • diarréia, na maioria das vezes sanguinolenta,
  • dor abdominal,
  • perda de peso,
  • retardo de crescimento se iniciada na infância e adolescência.

A docente explica que também podem ser observados fadiga, falta de apetite, distensão abdominal, náuseas, vômitos, anemia, febre, aftas e doença perianal, como a presença de fístula.

Causas e fatores de risco

Sua origem permanece sem literatura definida, mas fatores genéticos e imunológicos podem desempenhar papéis significativos. Indivíduos com histórico familiar da Doença de Crohn estão em maior risco, assim como aqueles que possuem um sistema imunológico hiperativo. Além disso, o estilo de vida e fatores ambientais podem desencadear ou agravar os sintomas.

Controlando a Doença de Crohn

O manejo da doença é personalizado, visando controlar os sintomas, promover a remissão e melhorar a qualidade de vida do paciente. Os tratamentos podem incluir medicamentos anti-inflamatórios, modificação na dieta, suplementos nutricionais e, em alguns casos, cirurgia.

No entanto, a individualidade da resposta ao tratamento e a natureza imprevisível da enfermidade representam desafios, exigindo uma abordagem colaborativa entre paciente e equipe médica. A professora Hildenia reforça a importância de não perder a janela de oportunidade, enfatizando que “iniciar o tratamento o mais precocemente possível é fundamental”. 



“O acompanhamento com médicos especialistas é essencial para a escolha da terapêutica ideal, que é individualizada, proporcionando uma resposta adequada e evitando complicações, favorecendo, assim, uma melhora na qualidade de vida.” Hildenia Baltasar, professora do curso de Medicina 

 


Nutrição como ponto de auxílio

No contexto da Doença de Crohn, há uma crescente atenção voltada para estratégias complementares que podem contribuir para o bem-estar dos pacientes. Dentre as abordagens consideradas, destaca-se a exploração de hábitos alimentares específicos que possam ser potencialmente benéficos. 

A relação entre nutrição e a enfermidade têm sido objeto de estudo, com pesquisas explorando como certos padrões alimentares podem influenciar os sintomas e a qualidade de vida dos indivíduos afetados. No entanto, é importante ressaltar que as implicações específicas da nutrição no tratamento da condição variam entre pacientes, sendo fundamental considerar a individualidade de cada caso.

Segundo Marília Porto, docente no curso de Nutrição da Unifor, a alimentação desempenha um papel crucial no controle dos sintomas, adaptando-se conforme a manifestação dos pacientes e a necessidade de retirada ou inclusão de diversos alimentos na dieta.



A alimentação adequada é uma das principais aliadas no tratamento da Doença de Crohn (Foto: Getty Images)


“Por exemplo, se o paciente está em uma fase ativa, apresentando diarreia, vamos ter que retirar os alimentos que são irritantes, alimentos que podem corroborar para piorar aquela sintomatologia. Pacientes também podem apresentar prisão de ventre, constipação, e aí já teríamos que colocar alimentos mais laxativos. Então, depende bastante do aparecimento dos sintomas”, pontua a docente. 

A colaboração estreita entre profissionais de saúde, incluindo nutricionistas e gastroenterologistas, é essencial para desenvolver abordagens personalizadas que respeitem as necessidades nutricionais e os objetivos terapêuticos de cada pessoa afetada pela condição.

Essa abordagem integrativa, aliada aos avanços contínuos na pesquisa médica, busca proporcionar suporte abrangente e personalizado aos pacientes com Doença de Crohn, considerando aspectos tanto médicos quanto relacionados à nutrição.

“Manter um estilo de vida saudável é crucial, especialmente para aqueles com histórico familiar de Doença de Crohn. Praticar atividade física e adotar uma alimentação equilibrada são medidas importantes para evitar o desenvolvimento da doença, já que sua etiologia é desconhecida e o fator genético desempenha um papel significativo”, explica Marília.



 

“É fundamental entender que a Doença de Crohn não possui cura ou tratamento definitivo, tornando essas práticas saudáveis essenciais para prevenir a manifestação da patologia.” Marília Porto, nutricionista e docente do curso de Nutrição