“Flexitarianos”: um novo pensamento de consumo alimentar

Há três anos, Carlos Eduardo Franco, aluno do quinto semestre do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza, instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz, decidiu reduzir o seu consumo de produtos de origem animal. Essa decisão surgiu a partir do momento em que o futuro jornalista começou a se interessar por questões ambientais, o que o levou a ler e assistir documentários sobre o tema. 

Atitudes como a de “Cadu”, como ele é conhecido entre os amigos, são uma tendência cada vez mais comum na sociedade atual. De acordo com um levantamento divulgado em 2021 pela Euromonitor International, líder mundial no fornecimento independente de pesquisa estratégica de mercado, quase um em cada quatro consumidores no mundo tenta limitar a ingestão de carne. 

No mesmo ano, uma pesquisa feita pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) concluiu que 46% dos brasileiros já tiraram a carne de suas refeições pelo menos uma vez na semana. Seja por questões ambientais, de saúde ou amor aos animais, cada vez mais pessoas estão aderindo à essa redução do consumo de proteína animal em suas vidas, especialmente os jovens.  

Assim como o estudante de jornalismo, a discente Carolina Lima, do segundo semestre do curso de Marketing Digital da instituição, passou, há mais de um ano, a moderar o seu consumo de proteína animal. Ela explica que iniciar essa redução surgiu do “conhecimento sobre os males que podem gerar no próprio corpo, a crueldade animal, e como a indústria pecuária é, no geral, prejudicial, falando não apenas dos animais, mas para o meio ambiente também”, afirma.

“Flexitarianos”

Ainda que tenham reduzido esse consumo, Cadu e Carolina não são veganos ou vegetarianos. Porém, já existe um novo nome para essa classe de pessoas que estão dispostas a deixar a alimentação carnívora de lado e adicionar outros elementos em suas dietas: “flexitarianos”. O termo foi criado em 1990 por Dawn Jackson Blatner, médica norte-americana especialista em alimentação, e ganha cada vez mais adeptos. 

Os flexitarianos podem ser relacionados à expressão “nem oito, nem oitenta”, pois são indivíduos que prezam pelo equilíbrio em sua alimentação, assim como em outras áreas. As pessoas que se encaixam nessa categoria são onívoros (consomem alimentos de origem animal e vegetal) e seguem uma dieta que não é vegana, mas também não é focada em produtos de origem animal. 

Além de se afastarem de carnes e demais alimentos derivados de bichos, as pessoas que adotam esse estilo de vida também demonstram uma preferência por marcas cruelty free (produzidos sem testes em animais), e negócios que tem como objetivos principais a preservação do meio ambiente e o apoio a causa animal, parecem conquistar mais o público. Entretanto, aderir ao flexitarianismo também é um processo, e acontece de forma diferente para cada indivíduo.


A estudante de Marketing Digital, por exemplo, ao mesmo tempo em que reduziu o consumo de proteína animal em sua alimentação, afirma que ainda não aplicou essa mesma atitude em outras áreas da sua vida. Ela diz estar se informando mais sobre outros produtos em geral, como cosméticos e roupas, mas, para Lima, acessar esse conhecimento com veracidade é difícil, pois as informações passadas pelas marcas podem ser contraditórias e, por vezes, mentirosas. 

Por outro lado, Cadu revela que, além de tirar a carne de suas refeições, já reduziu o consumo de produtos de origem animal em vestimentas e produtos de higiene pessoal. “Não posso falar que todas as minhas roupas não têm [origem animal], porque tem peça que eu realmente não sei se dizer. Mas eu tento comprar, por exemplo, os produtos capilares que sejam veganos, como todos os meus shampoos, cosméticos, etc”, conta o estudante.

Movimento crescente

No Brasil, as buscas pelo termo “vegano” aumentaram 300% entre 2016 e 2021, segundo o Google Trends, ferramenta que mostra as pesquisas mais populares na plataforma. Dados como esse expõem o crescimento de movimentos que visam proteger o meio ambiente e preservar a vida animal, e mostram uma sociedade cada vez mais interessada em tomar decisões mais ecológicas.  

O futuro jornalista percebe que, de uns anos para cá, a comunidade de pessoas que não consomem produtos de origem animal aumentou. Porém, apesar de temas como sustentabilidade e saudabilidade estarem em alta, movimentos como o flexitarianismo e o veganismo encontram resistência em gerações mais antigas, já que muitas dessas pessoas ainda associam o consumo de carne a uma vida saudável. 

Ambos flexitarianos, os discentes entrevistados têm objetivos diferentes, mas suas opiniões acerca do veganismo e vegetarianismo convergem. Embora o número de pessoas dispostas a abrir mão do consumo de proteína animal tenha crescido, Carlos Franco acredita que o caminho para uma maior adesão a esses movimentos ainda é longo.

“Acho que o vegetarianismo [e o veganismo] é uma crescente, principalmente nas gerações mais novas. À medida que as pessoas forem tomando consciência dos benefícios, o movimento com certeza crescerá muito. [Entretanto] o que falta são pessoas que falem para todos os públicos de maneira não ‘agressiva’ e extremista. Mas, é um processo que demora um pouco para acontecer”, complementa Carolina Lima.