Obesidade: só o peso da balança é suficiente para definir essa condição?

Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade é uma doença que afeta 650 milhões de pessoas em todo o mundo. Seu surgimento é impulsionado, sobretudo, por maus hábitos alimentares, como o consumo excessivo de alimentos industrializados e a ausência de atividade física. Entretanto, para diagnosticar corretamente suas causas e iniciar o tratamento adequado, é indispensável o acompanhamento de profissionais especializados na área.

Filipe Brito, nutricionista funcional e professor do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, explica sobre a relação do peso da balança com a obesidade. “As definições mais comuns da obesidade estão associadas ao peso. Entretanto, o peso sozinho não é um fator confiável, pois não sabemos a composição desse peso”, afirma.

O nutricionista explica ainda como a classificação da obesidade é orientada de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS): “classicamente, a obesidade é definida como o excesso de peso e esse excesso é verificado pela relação entre o seu peso atual dividido pela altura ao quadrado. Esse resultado é usado para classificar o sobrepeso e obesidade, de acordo com a classificação OMS; mas temos algumas pessoas que, por desenvolvimento de massa muscular, podem ter um peso maior e esse peso elevado não se relaciona com um pior perfil de saúde”, comenta.

Por isso, é indispensável analisar a distribuição de gordura do corpo. “Para verificarmos essa distribuição de gordura, uma das formas mais simples é a medida da circunferência da cintura. Pessoas que têm um peso elevado por causa da massa muscular vão apresentar um perímetro da cintura menor. Já as pessoas que tem um peso elevado por causa de gordura, vão apresentar um perímetro da cintura maior”, esclarece Filipe.

Ainda segundo ele, é possível utilizar outras medidas que estimam a gordura corporal, como a avaliação por dobras cutâneas ou avaliação por bioimpedância. “Ambas estimam a gordura total do corpo, que é um ponto de avaliação para verificarmos qual a composição desse peso excessivo, se está realmente associado ao excesso de gordura corporal”, pontua o nutricionista.

Desse modo, o peso não é o único parâmetro que deve ser acompanhado. “O peso é apenas um dos parâmetros para acompanhar se um indivíduo está engordando ou não. Se a pessoa estiver fazendo exercício físico de força, ela ganha musculatura e musculatura também pesa. O peso deve ser acompanhado, mas não pode ser fator principal a ser levado em consideração”, conclui.

Rafaela Vieira, médica endocrinologista e professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, salienta que a obesidade é uma doença que vai muito além em estar “gordo” e não ser saudável. “Estar acima do peso vem associado com outros fatores. Geralmente, quando a pessoa está acima do peso com aumento da circunferência abdominal, acima de 88 centímetros para mulheres e acima de 102 centímetros para homens, o excesso de peso aumenta o risco de doenças cardiovasculares. É essencial diferenciarmos se a pessoa está gorda apenas pelo excesso de peso”, explica ela.

Segundo a médica, “se compararmos duas pessoas de mesma altura e os dois pesam 100 kg, por exemplo, sendo que um é halterofilista com o corpo definido e cheio de músculos e o outro é uma pessoa obesa. O que muda aqui é a composição do corpo, não é simplesmente ser gordo ou ser magro, é saber de que é formado esse corpo”.

Causas e formas de tratamento

A obesidade também é responsável por desencadear outras doenças como pressão alta, diabetes, colesterol alto, aumento do ácido úrico, AVC, risco de infarto e diferentes tipos de câncer.

Para a médica Rafaela Vieira, o excesso de peso em crianças e adolescentes que seguem uma dieta composta por alimentos ultraprocessados e com baixa introdução de alimentos saudáveis é preocupante. “Como endocrinologista, percebi bastante, durante a pandemia, vários pacientes retornaram ao consultório após seis meses confinados em casa, sem fazer atividade física e comendo mais por causa da ansiedade. O ganho de peso também foi um efeito da pandemia”, relata.

Rafaela Vieira alerta que alguns medicamentos podem influenciar no desenvolvimento da obesidade, como o uso excessivo de glicocorticóides, por exemplo. “Algumas vezes, a pessoa está com excesso de peso e não necessariamente está obesa. Vemos isso nos pacientes cardiopatas, renais, em que eles estão na verdade cheios de líquidos e não necessariamente com excesso de peso e gordura. O primeiro passo é procurar um médico e fazer uma avaliação para identificar por meio do ponto de vista metabólico quais são as doenças que vão estar associadas a essa obesidade e o tratamento vai ser reconhecido mediante este diagnóstico”, orienta.

Para iniciar o tratamento adequado contra a doença, é necessário começar o quanto antes. O professor Filipe Brito destaca quais são os primeiros sinais que podem indicar a obesidade.

“Se você é uma pessoa que reduziu ou parou de fazer atividade física, mudou o padrão alimentar passando a comer mais produtos industrializados, você já tem um risco aumentado de desenvolver. Portanto, prestar atenção no seu comportamento é o primeiro fator, porque você pode mudar enquanto está apenas em risco e não quando a obesidade já está instalada. Além disso, se a calça está começando a ficar mais apertada, é um sinal de acúmulo da gordura abdominal, já é um sinal de que ganhou peso e gordura corporal, caminhando para a obesidade”, completa.

De acordo com o nutricionista, o tratamento depende dos fatores envolvidos que foram gatilhos para o surgimento da doença. “Muitas pessoas vão conseguir tratar a obesidade com um bom acompanhamento nutricional, modificando e melhorando a alimentação, realizando exercícios físicos orientados por um profissional de Educação Física. Entretanto, algumas pessoas apresentam um relacionamento com a comida alterado, desenvolvendo uma compulsão alimentar. Para essas pessoas, é interessante um acompanhamento também com um psicólogo e nutricionista da área de comportamento alimentar, para resolver a relação do indivíduo com a comida”, afirma.