Pesquisa do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza busca ajudar na prevenção do câncer em mulheres

O movimento internacional Outubro Rosa visa a conscientização para o controle e prevenção do câncer de mama. Comemorada anualmente, a data também põe em evidência as outras formas da doença, que podem acometer o corpo feminino. 

Em 2020, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA) do Brasil, cerca de 13% dos casos de câncer de mama poderiam ter sido evitados por meio da redução de fatores de risco relacionados ao estilo de vida dos indivíduos. Os dados são da pesquisa elaborada pela Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) do órgão, intitulada "Número de casos e gastos com câncer de mama no Brasil atribuíveis à alimentação inadequada, excesso de peso e inatividade física".

Esses números chamam a atenção de diversos profissionais e pesquisadores da área da saúde, que buscam minimizar e reverter o quadro que acomete diversas mulheres por ano.


Professora Priscila Paiva Dias, do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza (Foto: Ares Soares)

Câncer e estilo de vida

Priscila Paiva Dias, professora do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, já pesquisa sobre o câncer de mama há bastante tempo, e seus demais objetivos acadêmicos se encaixam nessa linha. 

Como nutricionista, a docente atuou na área clínica por muitos anos, e durante esse período, acompanhou mulheres que sofriam com a doença, desde o diagnóstico até o tratamento. Ela conta que a vivência direta com as pacientes a fez questionar sobre o estilo de vida levado por essas mulheres, e de que forma isso impactava na doença. Priscila diz que existem inúmeras inter-relações do câncer com os hábitos adotados pelos indivíduos, e isso impulsionou ainda mais a sua vontade de estudar e se aprofundar sobre o tema. 

Assim, a professora passou a se questionar sobre como a nutrição poderia minimizar os índices dos cânceres femininos. "Eu vivenciei isso acompanhando as pacientes, e comecei a pensar: será que essas mulheres têm um estilo de vida que realmente favoreça o aumento do número de câncer? E essas mulheres que já têm câncer, será que seguindo esses velhos hábitos, elas terão uma piora do prognóstico ou mesmo recidiva da doença?", relembra.


Sara Moreira, professora adjunta do curso de Nutrição da Universidade Estadual do Ceará - Uece (Foto: Ares Soares)

A mulher em Fortaleza

A partir dessas inquietações, e da vontade de entender a mulher em sua amplitude, nasceu a pesquisa NutriFemi - Fortaleza: avaliação de saúde e estilo de vida de mulheres do município de Fortaleza. O objetivo do projeto é avaliar a saúde e estilo de vida de mulheres em Fortaleza e hábitos relacionados à prevenção do câncer feminino, visando a elaboração de políticas públicas sobre o assunto.

A pesquisa é realizada de forma remota, por meio de um link do Google Forms, que ficará disponível até que o número de participantes seja alcançado, e pretende abranger uma amostra estimada em 2.000 mulheres da capital cearense, todas entre as idades de 19 e 65 anos. O tema já vinha sendo pensado por Dias, que resolveu colocá-lo em prática através da elaboração do projeto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da sua orientanda Fernanda Alencar Rodrigues, que, de acordo com a docente, abraçou a ideia.
Para complementar o time de pesquisadoras, Priscila convidou Sara Moreira, professora adjunta do curso de Nutrição da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e coordenadora do Grupo de Estudos em Nutrição Oncológica (GENO).

"O projeto visa avaliar o estilo de vida da mulher adulta fortalezense, pensando nas Diretrizes de Prevenção do Câncer. Existem diretrizes mundiais que também são adotadas pelo INCA, como gerenciamento do peso, prática de atividade física, e melhora na qualidade da alimentação, que falam sobre o estilo de vida do indivíduo. Então, o objetivo principal do projeto é conhecer como as mulheres se comportam diante dessas diretrizes", explica Sara.

Transformando realidades 

A parceria entre as duas professoras é antiga. Assim como a docente da Unifor, Moreira já tem um longo histórico de pesquisa sobre o câncer de mama, e foi em uma dessas empreitadas que seus caminhos se cruzaram. Atualmente, Sara é co-orientadora do Doutorado de Priscila, que terá sua tese baseada em uma pesquisa coordenada pela professora da Universidade Estadual do Ceará. 

O trabalho realizado por Dias vai extrair dados de uma coorte (conjunto de pessoas que possui algo relevante a ser estudado) que está avaliando hábitos de saúde e fatores prognósticos para a sobrevida de pacientes recém-diagnosticadas com câncer de mama. De acordo com a profissional, essa é a primeira coorte de mulheres com esse tipo da doença do Ceará, e terá a duração de cinco anos.

A colaboração de anos culminou em uma vontade de entender melhor como as mulheres se comportam em seus cotidianos, que hábitos adotam e se elas compreendem como isso pode impactar no desenvolvimento ou recidiva do câncer. Assim, Priscila chamou Sara para participar da pesquisa desenvolvida no trabalho de sua aluna para que, juntas, pudessem transformar a realidade das mulheres da capital alencarina e trazer informações e políticas públicas sobre e para a saúde feminina.

Políticas públicas

O projeto tem duas preocupações: a mulher que não tem câncer, mas que possui um estilo de vida favorável ao desenvolvimento da doença; e a mulher que recebeu o diagnóstico, fez o tratamento cirúrgico e clínico e hoje, enquanto sobrevivente, retorna ao seu ambiente de vida anterior e, como consequência, retoma os seus hábitos físicos e alimentares anteriores à doença.

Ao levar em consideração essas duas categorias, as professoras esperam que, a partir do mapeamento das respostas das participantes, os resultados trarão subsídios para que os cuidados com a alimentação e com a prática de atividades físicas possam ser inseridos como políticas públicas dentro dos programas de cuidado com a saúde integral da mulher tanto no Governo Federal quanto no Estadual, que apresentam lacunas no que diz respeito ao estilo de vida. 

"Nós temos, via gestores de saúde e políticos, formas de concretizar políticas que possam ajudar não só a disseminar informação sobre saúde, mas sobre prevenção do câncer. Logo, a gente vai traçar o perfil dessas mulheres e, com esses resultados, pretendemos chegar realmente com as autoridades públicas e pensar em estratégias para elaboração de políticas. Então, a gente quer não só informar isso como realmente, de alguma forma, interferir nesse processo", afirma a doutoranda em Saúde Coletiva.

Para todas aquelas que participarem do projeto, ao final do formulário as professoras disponibilizaram um e-book desenvolvido pelo GENO. O livro é intitulado "Alimentando o autocuidado: recomendações nutricionais para prevenção do câncer e sua recidiva" e tem como objetivo apresentar as recomendações de prevenção sugeridas pelo World Cancer Research Fund e pelo INCA, mencionadas anteriormente. 


Trabalho conjunto entre Unifor e Uece visa transformar a realidade de mulheres em Fortaleza (Foto: Ares Soares)

Juntas somos mais fortes

O projeto idealizado por Priscila reforça a importância e a potência da parceria entre a Unifor e a Uece. Uma vontade de ambas as professoras é que o conhecimento e os resultados adquiridos através da pesquisa não fique guardado apenas no âmbito acadêmico. "Essa é uma preocupação que a gente vem tendo ao longo da nossa trajetória como pesquisadoras, que aquilo que a gente faz dentro dos muros da universidade de alguma forma impacte na sociedade, seja na formação dos nossos estudantes ou seja no resultado dos trabalhos que a gente faz", afirma a coordenadora do GENO.

Para Dias, essa junção entre as duas universidades resulta em uma somatória de conhecimentos acerca do tema principal, e o fato de trabalhar ao lado de Sara só potencializa a pesquisa. "A gente quer mudar a curva, quer fazer diferente. Então, somar forças, para que com esse conhecimento que temos, a gente identifique, mapeie, e trace esse perfil; e que juntas lutemos pelo que a gente realmente acredita, que nós possamos transformar essa realidade, inverter essas estatísticas, e também contribuir para a saúde da mulher", enfatiza a nutricionista.