Refeições fora do horário? Nutricionista dá orientações para planejar a rotina alimentar

O cenário atual de pandemia intensificou a dificuldade de "sentar para comer".

Em pouco mais de um ano, a pandemia da covid-19 virou de ponta-cabeça a vida de todos os indivíduos ao redor do mundo. O distanciamento social e o confinamento durante períodos de lockdown causaram transformações em quase todos os aspectos do cotidiano. Essas alterações, muitas vezes drásticas, têm um impacto direto na saúde e bem-estar individual e coletivo. 

De repente, tudo passou a acontecer ao mesmo tempo: trabalhar, estudar, cuidar de casa, e se preocupar em como melhor adequar sua vida ao momento atual. Essa foi, e ainda é, a realidade de milhares de brasileiros ao longo de pouco mais de um ano. No meio desse furacão de acontecimentos, os horários pré estabelecidos e reservados para as refeições pareciam não fazer mais sentido.

Mudança de rotina 

"A rotina das pessoas foi modificada de uma hora para outra, da noite para o dia. E elas não se prepararam para essa mudança. Normal.", pontua Filipe Brito, nutricionista e professor do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz. Além disso, a incerteza causada pelo cenário atual e o ócio proveniente de longos períodos dentro de casa fizeram com que ansiedade, cansaço excessivo e sensação de impotência se tornassem algo comum entre as pessoas. 

Esses "sintomas" da pandemia estão profundamente ligados à alimentação e como o indivíduo a adequa ao seu dia a dia. É certo que, antes da pandemia, as pessoas já tinham dificuldades de conciliar os horários de suas refeições. A produtividade e entrega de resultados eram priorizadas, e a "parada obrigatória" para comer passava a acontecer durante um intervalo de cinco minutos entre uma reunião e outra.  

O cenário atual intensificou o fato de as pessoas não terem mais hora para comer. Porém, o que antes acontecia devido à correria do dia a dia, agora é causado pelo fato de todos estarem confinados em suas casas. Em um piscar de olhos, as cozinhas dos brasileiros ao redor do país deixaram de ser apenas um cômodo e se tornaram restaurantes, padarias, cafeterias e, até mesmo, bares. Isso fez com que as pessoas passassem mais tempo nessa parte da casa e aumentassem o consumo de alimentos em horários desregrados.  

Filipe Brito, nutricionista e professor do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza.

Horários predefinidos são necessários? 

Brito enxerga muitas causas para justificar as refeições embaralhadas. A mudança de rotina, mencionada anteriormente, é uma delas. Outro ponto seria o aumento do nível de estresse devido ao medo de contrair a doença, ou por ter vários afazeres ao mesmo tempo. Porém, o nutricionista cita um ponto importante: a falta de planejamento. "As pessoas não planejam o seu cardápio semanal e deixam para decidir o que vão preparar apenas em cima da hora. Então não têm tempo, fazem corrido", diz o professor. 

O debate sobre a necessidade de ter horários pré-estabelecidos para as refeições já é algo discutido entre os nutricionistas. A verdade é que nem todas as pessoas precisam desses horários bem definidos, já que cada organismo funciona de uma forma diferente. Tudo vai depender da situação de saúde do paciente e qual o seu nível de autoconhecimento em relação à fome e à saciedade. 

De acordo com Brito, não há uma regra ou uma estratégia mais saudável que se aplique a todos quando se trata do assunto. "Para alguns, em determinados momentos, vai ser importante ter horários definidos. Para outras pessoas, elas vão poder comer apenas quando sentirem fome e ficarão muito bem em relação a isso. Agora, um ponto que é extremamente importante para ambas as situações é que a pessoa se planeje. Não deixe para decidir o que vai comer naquele momento que está com fome", afirma.

De acordo com o nutricionista, se você fizer um planejamento mínimo para as suas refeições, não irá tantas vezes para a cozinha durante a semana, e já terá refeições, ou parte delas, prontas para vários dias. Além disso, não precisará se deslocar ao supermercado ou pedir comida por aplicativos de delivery com tanta frequência, o que é de grande ajuda em tempos de pandemia. 

Planejar é importante 

É de se pensar que, após todos esses meses, as pessoas tenham aprendido a criar rotinas e planejar suas refeições. Mas, para o nutricionista, isso não aconteceu. "A maioria das pessoas ainda não se organizou em relação a isso. E muitos têm dificuldade para se organizar, porque, imagina: uma pessoa que praticamente fazia todas as refeições no trabalho, (...) nunca precisou planejar o que queria comer. Agora, todo mundo em home office, você precisa planejar o que vai comprar, preparar, e muita gente não sabe (...), perdeu essa habilidade ou nunca desenvolveu", afirma.

Por fim, Filipe Brito, dá dicas daria para aqueles que desejam se organizar melhor em relação aos seus horários. "Se fizer esse planejamento mínimo, você vai conseguir ter uma rotina alimentar adequada, saudável, sem grandes dificuldades. Esse é o grande ponto: planejar o seu cardápio, suas refeições, de acordo com os seus objetivos de saúde e também com o tempo de preparação que dispõe", aconselha o nutricionista.