Saúde Mental e Resistência

Receber Davi Weyne para conversar conosco sobre Saúde Mental, CAPs e Redução de Danos no 22º episódio do Psicologia Polifônica foi uma alegria e uma honra. Com o Dia Mundial da Saúde Mental, comemorado no dia 10 de outubro, nada mais pertinente do que escutar quem de fato pensa o campo da saúde mental de forma não reducionista, não ortopédica e não centrada no modelo biomédico.

Nos conhecemos há anos e, apesar de formações distintas, ele farmacêutico e eu psicóloga/psicanalista, sustentamos um olhar (e uma atuação) no campo da saúde mental fincada a partir de uma lógica humanista na qual todo sujeito é um sujeito de direito, sujeito de desejo. Todo sujeito, todo paciente, todo usuário, tem o direito de ser escutado, de ser acolhido, de ser respeitado na sua singularidade sem que se opere uma ortopedia na sua subjetividade.

Davi é ex-aluno da Unifor, graduado em Farmácia no ano de 2008, é referência no nosso estado em Redução de Danos. Não por acaso, foi um dos 50 cearenses agraciados com o Troféu Sereia de Ouro em 2020. Como ele mesmo diz, “trabalhar com Redução de Danos é falar sobre vida, sobre respeito, sobre corresponsabilidade. É resistência, nesses tempos difíceis que estamos passando”. 

Em um tempo onde o imperativo de normalidade está na ordem do dia, onde todo sintoma é imediatamente traduzido como sendo patológico e um arsenal de pílulas cada vez mais sedutoras entra em cena para “curar” (silenciar) o sujeito, urge escutarmos quem consegue não ser capturado por esse dispositivo, apontando de maneira cristalina que é possível sim uma atuação fincada no respeito à subjetividade dos pacientes, que é possível sim viver sem omitir os verdadeiros sentidos da vida: às vezes ganhamos, às vezes perdemos, às vezes nos frustramos. Viver é isso. Como disse certa vez a historiadora e psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco, “o que seria da vida sem os grandes dados da condição humana: a morte, as paixões, a loucura, o suicídio, a angústia? Seria um cemitério!”.

Sigamos Davi, como você bem disse, precisamos resistir!

Sabrina Matos
Professora da Unifor
Curadora do Psicologia Polifônica