Você toma seus remédios da forma correta? Fique alerta aos malefícios da automedicação

Quem nunca tomou um medicamento por conta própria ao sentir uma dor ou desconforto? Que atire a primeira pedra também aquele ou aquela que jamais ousou chutar um diagnóstico com a ajuda do “Dr. Google”. Alguns sintomas digitados na barra de busca e… pá! Um punhado de doenças e tratamentos possíveis à distância de um clique.

A presença de medicamentos na nossa rotina é, cada vez mais, constante. Nós os utilizamos para diminuir dores, afagar crises, buscar conforto, tratar sintomas. Mas como evitar exageros no uso? Como garantir que estamos utilizando remédios de forma racional e segura? 

O papel crucial do farmacêutico e de outros profissionais da saúde no combate à automedicação excessiva é apresentado a seguir, por professores dos cursos de Farmácia e Medicina da Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz.

O farmacêutico na porta de entrada, contra excessos

Na porta de entrada para combater a automedicação, está a figura do farmacêutico. Dotado de amplos conhecimentos relacionados aos medicamentos em todos os aspectos, ele está apto a oferecer informação segura e qualificada às pessoas que o procuram nos estabelecimentos de saúde e nas farmácias. E também a identificar possíveis usos inadequados pelos usuários.

“O que nós estamos observando é um excesso (na automedicação)”, lamenta a farmacêutica Arlândia Nobre, coordenadora do curso de Farmácia da Unifor e presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Ceará. Cerca de 20 mil pessoas morrem anualmente no país por causa da automedicação, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifama).

Arlândia explica que a automedicação pode trazer uma série de malefícios, já que nenhum medicamento está isento de provocar eventos adversos e todo remédio precisa ser usado com base nas necessidades clínicas e individuais de cada paciente. 

“O papel do farmacêutico é crucial nessa preocupação com o uso racional dos medicamentos. Por meio de um de um segmento farmacoterapêutico, é possível nós  evidenciarmos os medicamentos que de fato são necessários, avaliarmos se estão sendo eficazes e se eles de fato estão trazendo benefícios”, ela explica.


Desde sempre, os remédios são importantes para a saúde, mas é preciso que eles sejam usados com orientação de profissionais qualificados para isto: seja o farmacêutico para casos mais leves ou o médico para problemas de saúde mais complexos.

Usar remédios por conta própria pode transformar medicamentos em substâncias tóxicas e trazer uma série de malefícios a partir de efeitos colaterais indesejados, seja a curto, médio ou longo prazo. As consequências podem ir desde a dependência química ao surgimento de outras doenças com o comprometimento de órgãos e, por fim, a morte. 

É neste sentido que a automedicação, hoje, é considerada um problema de saúde pública. “Há uma ação pesada de marketing que incentiva o uso, como se esses medicamentos fossem solucionar todos os problemas”, critica a farmacêutica Arlândia Nobre.

Cybercondríacos: a busca por doenças na internet

A automedicação em excesso foi intensificada durante a pandemia, quando as pessoas ficaram mais isoladas dentro de casa e evitavam buscar orientações de saúde fora. “As pessoas buscam cada vez mais acesso à informação via internet. E muitas vezes elas são sugestionadas a consumir um determinado produto, a acreditar que têm um determinado diagnóstico”, pondera Arlândia. 

Até uma nova nomenclatura surgiu para dar conta dos usuários ávidos por buscar doenças e tratamentos na internet: cybercondríacos. E é aí que entra o protagonismo equivocado que o “Dr. Google” vem ganhando nos nossos tempos. A farmacêutica acrescenta que muitas vezes as informações acessadas pelos usuários no site de buscas sequer são confiáveis - e só geram mais ansiedade. 

Se o farmacêutico é um dos profissionais de saúde que mais conhece os medicamentos e seus possíveis efeitos, diagnosticar pacientes é tarefa de outro profissional da saúde: o médico. Eles podem atuar em conjunto, de forma interdisciplinar, contra os malefícios da automedicação.

Uma corrente multidisciplinar contra a automedicação

“Aos médicos, cabem a avaliação, o diagnóstico e a indicação dos tratamentos medicamentosos com o princípio mais adequado, na dose e no modo de administração corretos. O farmacêutico atua de maneira decisiva na dispensação, na manipulação, no controle de qualidade e na orientação do uso das mais diversas substâncias”, pontua o médico Eduardo Jucá, coordenador do curso de Medicina da Unifor.


Ele acrescenta que, além desses profissionais, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas têm papel importante no sentido de detectar uso inadequado de medicações e proceder à orientação dos pacientes. 

“O principal meio para evitar excessos é o acompanhamento por profissionais de saúde que, com a devida competência técnica, podem orientar e controlar os tratamentos medicamentosos de modo a aumentar as chances de benefícios e diminuir os riscos de efeitos adversos”, afirma Jucá.

Nem todo tratamento exige remédio

Arlândia acrescenta que, em geral, as pessoas são induzidas a acreditar que todos os problemas de saúde podem ser tratados com medicamentos enquanto muitos deles exigem terapias não farmacológicas. “A automedicação está associada à impressão de que os medicamentos são absolutamente seguros. E nenhuma substância química é absolutamente segura. O que a gente vai sempre avaliar é o risco e o benefício de usar o medicamento dentro daquela necessidade por um tempo estabelecido”, explica.

Mas o hábito da automedicação é cada vez mais usual e tem como efeito distanciar as pessoas da figura profissional que pode, de fato, ajudá-las a curar doenças. “Cai-se na armadilha de acreditar que os problemas de saúde podem ser contornados com o uso de remédios indicados por parentes, amigos ou vizinhos, ou mesmo pesquisados aleatoriamente na internet”, aponta o médico Eduardo Jucá. E aí doenças potencialmente tratáveis acabam evoluindo para formas graves neste processo.

É preciso um esforço conjunto para barrar o problema da automedicação e construir ações de educação para a saúde e de conscientização sobre o uso racional dos medicamentos. Para avançar por este caminho, devemos nos tornar menos cybercondríacos e acessarmos mais os serviços profissionais de saúde.