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Ter, 2 Maio 2023 17:30

Conhecimento por todo o campus

Na Unifor, aprender é verbo conjugado em todo lugar! Em diferentes atividades, alunos e professores podem explorar o campus e encontrar espaços de aprendizagem para além da sala de aula


No Espaço Cultural Unifor, a sala “Diálogos”, que compõe a exposição “Elas — De Musas a Autoras, Unifor 50 anos”, é ambiente tanto pedagógico quanto criativo (Foto: Ares Soares)
No Espaço Cultural Unifor, a sala “Diálogos”, que compõe a exposição “Elas — De Musas a Autoras, Unifor 50 anos”, é ambiente tanto pedagógico quanto criativo (Foto: Ares Soares)

Interagir com uma exposição, desenvolver um projeto arquitetônico, fazer um filme. Tudo isso perto —  mas além — da sala de aula. Na Universidade de Fortaleza (Unifor), mantida pela Fundação Edson Queiroz, o campus é, dia a dia, espaço pulsante para múltiplas possibilidades de aprendizagem.

Se no ambiente acadêmico o conhecimento se constrói a partir do tripé ensino-pesquisa-extensão, não é exagero dizer que, por aqui, ensinar e aprender são verbos conjugados em todo lugar — a partir destas e de outras tantas experiências. 

Os exemplos são muitos. Circular pelos blocos da Universidade é sempre uma oportunidade de se deparar com atividades acontecendo ao ar livre. Se não viu, certamente ouvirá alguém falar: a criatividade é explorada constantemente por alunos e professores, desde a laboração da proposta de ensino a ser colocada em prática até o envolvimento no que é feito pelas turmas. 

Adentrar em outros espaços do campus, entre eles o Espaço Cultural Unifor e o Teatro Celina Queiroz, é também ver de perto a difusão do saber para públicos de diferentes cursos. Em 490 mil metros quadrados, há muito mais a conhecer do que as mais de 300 salas de aula e cerca de 400 laboratórios especializados. Não é difícil puxar da memória alguma história de uma “aula diferente” ou de um “exercício marcante” para contar.

Um set de filmagem a céu aberto

Que o diga Valdo Siqueira, professor do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor. Também documentarista e fotógrafo de cinema, ele define o campus como “um imenso set de filmagem” para quem é da graduação. “Volta e meia utilizamos espaços internos como locações: o Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), a Academia, a lagoa, a mata, o Teatro, a videoteca. Tudo pode virar sala de aula”, enumera.

Na formação de futuros profissionais que trabalharão com imagens, o verde — tão presente na Universidade — é, por si só, um diferencial. “É uma biota dotada de fauna e flora inspiradoras para aulas de fotografia e de documentário”, considera. A partir do que se observa no campus, ele diz ser possível também aliar teoria e prática na discussão de temas transversais aos estudos de imagens.

O envolvimento dos alunos começa já no primeiro semestre, mas, conforme destaca, se estende por toda a graduação, uma vez que “não é rápido que se conheça o espaço todo”, brinca. A ideia de aprender fora da sala de aula anima: “Toda vez que anuncio às turmas que a aula será no campus, o sorriso fica solto. Os alunos amam as facilidades que o espaço oferece. O próprio deslocamento já é um atrativo”.

Além disso, Valdo reconhece que, dentro da Universidade, já é possível usufruir de condições que poderiam ser encontradas apenas externamente. Como resultado, muitas produções feitas em espaços da Unifor já foram vistas para além da instituição.


Destaco um filme dentre tantos que foram feitos no campus: ‘Oração ao cadáver desconhecido’, de Sávio Fernandes. Lembro que ele queria filmar fora, ir até Quixadá, daí defendi que, se fizesse na Unifor, iria economizar e muito. Ele topou e o filme ganhou o mundo” — Valdo Siqueira, professor do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor

Soma-se a estas condições o contato próximo da comunidade acadêmica com a arte, a partir de “magníficas galerias que se expandem da reitoria por todo o campus”. Para o professor, pesquisar sobre a história das imagens in loco, vendo obras espalhadas pela Universidade, é uma oportunidade que enriquece a formação.

Confira o curta-metragem gravado no campus da Unifor e que ganhou o mundo

Um Espaço Cultural para todos…

…E não apenas de futuros profissionais do cinema e do audiovisual. No Espaço Cultural Unifor, consolidado como um dos mais importantes instrumentos de disseminação da arte no Brasil, as linguagens artísticas se cruzam com a educação desde 1988.

Em uma das mais recentes manifestações disso, a exposição “Elas — De Musas a Autoras, Unifor 50 anos”, em cartaz desde março deste ano, abriga um ambiente que se revela, ao mesmo tempo, pedagógico e criativo.

Trata-se da sala “Diálogos”, que compõe a mostra, além das cerca de 150 obras da Coleção Fundação Edson Queiroz. No espaço, há debates, intervenções, ativações e atividades de interação que envolvem diferentes cursos de graduação e pós-graduação da Universidade.


A sala “Diálogos” é um espaço pedagógico onde ocorrem bate-papos da comunidade acadêmica e do público externo com convidados (Foto: Ares Soares)

“A exposição se propõe a gerar uma ampla discussão sobre diversos aspectos da questão de gênero, atendendo a um processo de reavaliação dos mecanismos que construíram a historiografia oficial”, detalha Denise Mattar, curadora da exposição.

Uma vez que a mostra comemora os 50 anos de história da Unifor, ela explica que também pensou em criar a sala “Diálogos” como um espaço para integrar a instituição de ensino com a exposição, fomentando discussões sobre inúmeros aspectos levantados pelo tema mulheres. “A sala não é um espaço para ser visitado, e sim ocupado”, argumenta.

Para diferentes cursos, experiências diferentes

Para tal ocupação, o ambiente reúne ideias de diferentes ordens, materializadas a partir de uma reunião da curadora com mais de 80 professores de diversas áreas. Denise cita algumas delas:

  • Ativações como o desenvolvimento de figurinos, a partir de obras de arte, pelos alunos da graduação em Moda;
  • Ciclo de cinema com foco em filmes que apresentam a evolução do comportamento feminino, organizado pelo curso de Cinema e Audiovisual;
  • Palestras sobre a mudança dos cadernos femininos de jornais e revistas femininas, promovidas pela graduação em Jornalismo;
  • Mesa-redonda sobre a evolução da publicidade, problematizando aspectos do machismo que imperaram por muitos anos, a ser desenvolvida pelo curso de Publicidade e Propaganda.

Outros campos do saber também estão contemplados nas possibilidades da sala “Diálogos”. O curso de Marketing deve debater aspectos da área e suas relações com conquistas do movimento feminista; assim como a graduação em Direito pode levantar reflexões sobre avanços na legislação voltada aos direitos das mulheres, exemplifica Denise.

Para ela, além do ambiente interativo, a exposição como um todo reafirma a arte como fio condutor para a produção e a disseminação de conhecimento na Universidade de Fortaleza.


“Uma das características mais importantes da coleção da Fundação é o seu arco temporal, que vai desde os artistas holandeses até a contemporaneidade. Isto é, de 1640 a 2023. Por ela, desfila não apenas a história da arte, mas a história do Brasil, pois arte é sempre um reflexo do momento político, econômico e social. Cabe aos professores e aos alunos fazerem essas leituras, e a sala ‘Diálogos’ está lá para isso”Denise Mattar, curadora da exposição “Elas — De Musas a Autoras, Unifor 50 anos”

Mediações possíveis

Percepção semelhante tem Adriana Helena Moreira, chefe da Divisão de Arte e Cultura da Universidade. Para além da exposição “Elas — De Musas a Autoras, Unifor 50 anos”, a professora ressalta que, no Espaço Cultural, é possível aprender sobre assuntos diversos, como arte, história, geografia, tecnologias e outros.

“Os visitantes são incentivados à curiosidade, à criatividade, a ampliar o repertório cultural, o pensamento crítico, o raciocínio lógico e a permanente leitura crítica e criativa”, complementa.

Para Adriana, a arte, “como linguagem que aguça os sentidos e transmite significados que não podem ser transmitidos por nenhum outro tipo de linguagem”, tem sua importância refletida nas discussões de assuntos presentes em distintos cursos da instituição. O acervo disponível no Espaço Cultural, acrescenta ela, permite a criação de múltiplas narrativas, acessadas também com fins pedagógicos

No âmbito específico da mostra, que celebra o aniversário de cinco décadas da Unifor, a professora destaca que a sala “Diálogos” está aberta a docentes e discentes para atividades interativas ao longo de todo o ano.

“[O educador] Paulo Freire traz a ideia de que ninguém aprende sozinho, e ninguém ensina nada a ninguém. Aprendemos uns com os outros, mediatizados pelo mundo. Isso atribui aos professores o papel de mediar as relações dos aprendizes, dos alunos, com o mundo, e isso deve ser conquistado pela cognição. Então a arte tem enorme importância nessa mediação entre os seres humanos e o mundo”, sustenta.


“O lugar experimental dessa mediação é o museu, é o Espaço Cultural. Penso os museus, os espaços culturais, como o nosso [da Unifor], como laboratório de arte, que é tão fundamental para o aprendizado da arte”  — Adriana Helena Moreira, chefe da Divisão de Arte e Cultura da Unifor

E para futuros engenheiros?

Indo do Espaço Cultural para as salas de aula da graduação em Engenharia Civil na Unifor, fica claro que o uso dos diversos ambientes do campus para atividades pedagógicas é valorizado em múltiplas áreas.

Coordenadora do curso, a professora Débora Barboza destaca que, além das salas de aula — utilizadas para apresentação de conceitos e teorias relacionados às disciplinas da graduação — e dos laboratórios — munidos com materiais e equipamentos para experimentos e testes que permitem vivências práticas —, outros ambientes são tão importantes quanto para a jornada de formação de futuros engenheiros.


Estudantes dos cursos de Engenharia têm o campus inteiro à disposição para realizar atividades práticas que são aprendidas em sala de aula (Foto: Ares Soares)

Entre eles, ela cita a Biblioteca Central, com rico acervo relacionado à engenharia civil, os ambientes de estudo em grupo e os espaços de convivência da instituição, como praças e jardins — cenários de lazer e descanso e, por que não, também de aprendizagem. “Cada disciplina e professor pode ter suas próprias formas de utilizar esses lugares, tornando a experiência de aprendizado ainda mais rica e diversificada”, constata.

Uma das possibilidades são as aulas práticas em ambientes simulados, nas quais os estudantes podem utilizar simuladores para aprender e treinar habilidades específicas, como o manejo de equipamentos de construção ou levantamentos.

Habilidades técnicas e pessoais

De acordo com Débora, a possibilidade de ter essas atividades dentro do próprio campus traz muitos benefícios aos estudantes, sendo mais fácil e prático o acesso a esses ambientes de aprendizagem, sem a necessidade de deslocamentos longos.

“Além disso, podem explorar os recursos e equipamentos da Unifor, o que enriquece sua experiência de aprendizagem e desenvolve sua criatividade e habilidades de resolução de problemas”, acrescenta a coordenadora.

Do ponto de vista pedagógico, para que o resultado seja este, a docente defende que é fundamental também que os alunos se envolvam ativamente e sejam incentivados a refletir sobre suas experiências, seja por meio de relatórios, apresentações, discussões em grupo e outras atividades. 

Tal abordagem, segundo ela, permite que os futuros engenheiros desenvolvam não apenas habilidades técnicas, mas também pessoais para a sua formação — dentre elas, pensamento crítico, trabalho em equipe, liderança e comunicação efetiva.


“A Unifor, ao oferecer diferentes espaços para a aprendizagem além da sala de aula, não apenas prepara seus alunos para o mercado de trabalho, mas também os torna cidadãos conscientes e comprometidos com o desenvolvimento social e sustentável da comunidade”Débora Barboza, coordenadora do curso de Engenharia Civil da Unifor

Outras vivências do campus

Em diversos cursos, as experiências fora da sala tradicional são valorizadas igualmente pelos estudantes. Ana Vitória Ferreira, aluna da graduação em Arquitetura e Urbanismo da Unifor, escolheu o ramo pela vontade de desenvolver a criatividade, algo que coloca em prática também em outros espaços do campus.

Além de experiências marcantes fora da Universidade, dentre as quais ela cita uma excursão feita ao Theatro José de Alencar e uma visita técnica feita a uma loja de revestimentos — ambas como programação de disciplinas acadêmicas —, a utilização de espaços dentro da Unifor faz parte da rotina universitária em diversas áreas.


Ana Vitória em visita ao Espaço Cultural Unifor (Foto: Arquivo pessoal)

"Já fizemos visitas ao laboratório de estruturas, ao Laboratório de Inovação e Prototipagem (LIP), no qual conhecemos o funcionamento da impressora 3D. Também visitamos o Espaço Cultural, uma experiência rica, visto que possui um acervo grande e bem raro", destaca.

Até a formatura, outras vivências ainda virão. Já de olho no mercado de trabalho, Ana Vitória sabe, desde já, que o conhecimento adquirido fora da sala de aula enriquece o currículo e agrega à formação. 


"É algo transformador, pois aprender na sala de aula e ver na prática faz toda a diferença"  — Ana Vitória Ferreira, aluna de Arquitetura e Urbanismo da Unifor

Ganho na atuação profissional

Quem já deixou a Universidade também reconhece o que as vivências no campus representam na formação. No curso de Cinema e Audiovisual, várias das atividades apresentadas pelo professor Valdo Siqueira foram parte da rotina do cineasta Arthur Leite, egresso da instituição, no período em que estudou na Unifor, entre 2011 e 2015.

O sonho de fazer cinema — alimentado desde a infância, quando assistia a filmes sempre que não estava estudando — até pareceu distante para alguém como ele, nascido em Quixeré, pequeno município situado no Vale do Jaguaribe, interior do Ceará.

A partir de várias vivências, o contato com o audiovisual foi se estreitando na juventude. Foi quando, já após acumular as primeiras experiências na área, encontrou, na Unifor, a possibilidade de se formar na carreira que sempre quis.


“Sem dúvidas, o campus, os laboratórios, os equipamentos, foram fatores decisivos para essa escolha (pela Unifor). Sempre tivemos acesso e liberdade no campus”Arthur Leite, egresso de Cinema e Audiovisual da Unifor

Memórias e perspectivas

Dentre as boas memórias, Arthur conta que, junto a um colega de curso, criou um cineclube durante a graduação. Os encontros aconteciam aos sábados, na Videoteca da Universidade. "Isso era muito importante, porque a gente tinha realmente um acesso liberado ao campus, liberdade para propor atividades que eram nossas e eram acatadas", pontua.

Ele também lembra que, com frequência, vinha do corpo docente a proposição de aulas abertas em diferentes espaços da instituição. Era uma oportunidade de fazer exercícios de câmera, de fotografia e outros. "O campus da Unifor é um microcosmos, então a gente tinha muita possibilidade de experimentar lá", afirma o egresso.


Cineasta formado pela Unifor, Arthur Leite tem produções premiadas nacionalmente (Foto: Arquivo pessoal)

Para além da sala de aula, o cineasta diz também que participar de grupos de estudo, como o Grupo de Estudos de Documentário (GDOC), e da TV Unifor foram experiências marcantes, que agregam à sua atuação profissional hoje, com roteiro e direção. 

Com apoio da Universidade, o trabalho de conclusão de curso dele, o curta-metragem “Abissal”, virou destaque internacional: chegou a vencer o festival nacional de documentários “É tudo verdade”, um dos mais importantes do mundo, e foi pré-qualificado ao Oscar no ano de 2017.

Arthur considera que as experiências no campus contribuíram para trabalhos artísticos e outras produções que coloca em prática no mercado de trabalho. Tudo com a mesma paixão do menino que queria fazer cinema: a de imprimir o próprio ponto de vista a partir de imagens em movimento.