Redação Enem: o que é a cultura do cancelamento e como estudar sobre o tema

Segundo o dicionário, cancelar significa tornar algo nulo, sem efeito, sem valor. Nas redes sociais, o conceito ganhou novas definições e tem sido aplicado a empresas, políticos, celebridades e todos aqueles que, de alguma forma, vacilam e apresentam comportamento que o público considera inadequado.

Em tempos de streaming, em que o usuário pode cancelar o serviço a qualquer momento, tem sido cada vez mais comum surgirem campanhas pedindo também o cancelamento de pessoas. A diferença é que "cancelar alguém” nas redes não fica apenas no ambiente virtual; a mobilização existe para pressionar e exigir que essas figuras canceladas sejam responsabilizadas pelos seus atos na vida real. Com isso, influenciadores digitais, marcas e demais envolvidos perdem seguidores, patrocinadores e deixam de vender. O prejuízo é social e financeiro.

O tema é um forte candidato à redação do Enem, pois foge de assuntos mais óbvios, como coronavírus e Covid-19, mas segue pautando a mídia e alimentando discussões. Caso você venha mesmo a encarar o assunto no próximo Enem ou no vestibular, é interessante ter um embasamento teórico, fugindo de achismos ou ideias genéricas.

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Nós conversamos com dois pesquisadores que estudam o papel das mídias sociais em discussões do tipo. A seguir, eles explicam quando surgiu, como se transformou e como ocorre a cultura do cancelamento.

Quando surgiu a cultura do cancelamento

Alison V. Marques é jornalista, com MBA em Marketing Digital e mestre em Administração pela Universidade de Fortaleza; ele explica que o cancelamento existe há muito tempo, mas em níveis e compreensões diferentes do que a gente conhece e vivencia hoje. Segundo o pesquisador, o fenômeno começou a ganhar mais força em 2017, quando houve o movimento #MeToo, que denunciava assédio sexual e o abuso de homens conhecidos contra mulheres.

"Além disso, pautas sociais, como racismo, feminismo, movimento LGBTQI+, começaram a ter mais força na internet e a ganhar mais espaço para apresentar seus pontos de vista e experiências", reforça Marques.

Isabelle Bedê, jornalista formada pela Universidade de Fortaleza, e mestre em Negócios de Mídias Digitais pela Macromedia University, na Alemanha, lembra que "a cultura do cancelamento mistura suas origens com a 'Call Out Culture', uma expressão usada para 'chamar atenção' de alguém em público por algo que tenha sido feito de errado ou inadequado, assim como a própria cultura das redes sociais em si, por ser uma ferramenta não só de socialização, mas também de ativismo".

Atitudes que levam ao cancelamento

Em tese, qualquer atitude considerada discriminatória, injusta, imoral ou antiética pode ser considerada merecedora do cancelamento. Recentemente, para citar alguns exemplos, houve o caso da influenciadora digital Gabriela Pugliesi, que foi cancelada por ter furado a quarentena. J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, foi duramente criticada por fãs, atores da saga no cinema e até mesmo por colegas de profissão por uma série de comentários no Twitter considerados transfóbicos. "É importante mencionar que também é possível ser cancelado por uma curtida, comentário ou compartilhamento considerado indevido", salienta Isabelle Bedê.

"A questão também é que não é a atitude que é cancelada, mas a pessoa. Todos nós podemos cometer um erro. Já pensou se fôssemos cancelados todas as vezes? Essas críticas podem levar à intolerância, e isso não é saudável. Quando uma pessoa erra, ela pode aprender com um feedback menos agressivo. Nada justifica, por exemplo, criar perfis fakes para atacar em comentários e até mesmo produzir fake news com frases fora de contexto", alerta Alison V. Marques.

É possível evitar ser cancelado?

"Empatia é a palavra-chave", resume Marques. O jornalista diz não acreditar haver uma receita porque, segundo ele, todos nós seremos cancelados de alguma forma. "Errou, pede desculpas. Comentou algo que fere alguém ou algum grupo, reconheça e tenha maturidade para aprender", aconselha.

Atualmente, qualquer ação pode ser o bastante para exigir o cancelamento de alguém, inclusive uma opinião compartilhada 10 anos atrás e que você nem lembra, explica Isabelle Bedê. "Se essa opinião for controversa, você pode ser cancelado - mesmo que não concorde mais com ela. Então, talvez a única forma de não ser cancelado seja não se expor nas redes sociais. Se você é ativo virtualmente, está sujeito a esse 'backlash' (intensa repercussão negativa)", afirma.

Estudando para o Enem

Para ter argumentos embasados e escrever uma redação Enem nota mil sobre esse tema, Bedê aconselha o candidato a ler sobre Primavera Árabe e as Jornadas de Junho no Brasil, para entender melhor como o ativismo online e o uso de redes sociais podem gerar mudanças reais politicamente, culturalmente ou economicamente. "Depois, para compreender melhor a cultura do cancelamento em si, é importante ler sobre o movimento #MeToo, suas motivações e repercussões", orienta Isabelle.

"Além disso, uma dica mais prática seria fazer uma investigação holística de diferentes 'cancelamentos' – o motivo do cancelamento, o(a) cancelado(a) e quais foram as suas consequências. Isso vai estimular o pensamento crítico e uma reflexão mais aprofundada dessa cultura, que sai do âmbito estritamente virtual e toca também o real", reforça a jornalista.

Alison V. Marques concorda. "De fato, esse tema tem grande chance de ser abordado no Enem e não cabe 'achismo'. É importante apresentar dados, consequências sociais, financeiras e psicológicas. Compreender como funciona, por exemplo, a construção da reputação na internet, que vale para marcas e pessoas, além de representatividade e linchamento virtual", conclui.

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